LÃ >> Ana Raja

 


Com a blusa de lã jogada sobre os ombros, ela assiste as cenas de um filme antigo.

A catarata embaralha as cores, não tem mais certeza da veracidade daquela encenação.

Os ouvidos não captam as falas com nitidez, e as lembranças são ralas para atestar com segurança o diálogo dos atores.

A blusa de lã jogada nos ombros, como o seu saudoso pai fazia, ela caminha cabisbaixa, em direção à casa repleta de fantasmas e fitas de vídeo caseiro. Aprecia mais os captados em preto e branco, que, por algum tempo, a levam de volta ao início de si.


Imagem © congerdesign por Pixabay

Comentários

Jander Minesso disse…
Cozinhou o tempo e reduziu o caldo até ficarem quatro parágrafos curtos da pura flor da tristeza. Coisa mái linda.
Soraya Jordão disse…
Que lindeza, amiga! Caminhamos com ela pelo resto dos dias. Amei.
Luciana G. disse…
Lindo lindo… a resposta do tempo! Somos momentos, instantes e lembranças.🩷
Nadia Coldebella disse…
Que texto mais sensível, especialmente por que vc consegue trazer, em poucas linhas, a tristeza, a fragilidade e a nostalgia.
Lindo!
Gde abço
Albir disse…
Seu texto é um suspiro de beleza e quase saudade do ainda não foi.
Zoraya Cesar disse…
Frente à essência da poesia e da tristeza e da melancolia que é esse texto tão mais que bem escrito, tão mais que derramado do coração, e frente ao comentário dos colegas, só me resta calar, ler de novo e chorar um pouco.
Anônimo disse…
As imagens, muito bem escolhidas, levam a gente à existência dessa pessoa. O texto é curto, mas impacta. André Ferrer aqui.

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