ONZE MANDAMENTOS >> whisner fraga

 


devia haver um peso para cada artigo:

não matar vale o mesmo que não cobiçar o boi ou o jumento do próximo?,

matutava essas inutilidades quando o verde resplandeceu no semáforo,

era um entroncamento de cinco vias e um sinal de três tempos ou mais,

fui, sabendo que, simultaneamente, iam mais dois,

dei preferência ao maior de todos, um caminhão cegonha, 

ora, o monstro também se deteve e ficamos naquele pode ir, vai você, pode ir, vai você,

e o resultado é que os carros arrancaram depois, ao mesmo tempo,

como gentileza gera deboche, tanto o motorista quanto o parceiro se esmeraram nos rituais: dedos do meio, gargalhadas, frases de cunho indelicado, outras pornografias e demais xingamentos,

havia encerrado meus exercícios diários minutos antes, vinha entupido de endorfina, de modo que ignorei,

não queria nem precisava chegar logo em casa: tudo corria como imprevisto,

cederás a preferência ao menor,

no cruzamento, deixarás o outro seguir,

não confiarás em semáforos de três tempos,

como seria o novo mandamento?


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imagem gerada no firefly

Comentários

Jander Minesso disse…
“Não xingarás no trânsito” seria um bom jeito de acabar com os congestionamentos.
Nadia Coldebella disse…
Não mostrarás o dedo do meio e nem esmurrarás o volante.

Se depender de mim, nesse quisito, vou pro inferno.

(Acho que a resposta a pergunta do começo o caminhão responde: o mais importante é o que pode causar mais dano).
Albir disse…
No trânsito pode até haver um peso para cada artigo, mas o corpo humano vale tanto quanto o ferro das latarias.
Zoraya Cesar disse…
o novo mandamento bem poderia ser: exigirás ciclovias decentes de seus empregados que ocupam o governo e obrigarás os caminhões a dirigirem por estradas próprias
Soraya Jordão disse…
Não cobiçaras nem o carro nem o palavrão do próximo.

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