UMA VOZ POR ESCRITO >> Cristiana Moura
—Que voz é esta?
—Não sei.
— Que voz é esta?
—Qual voz? Só ouço a tua.
—Que voz é esta?
—Eu não ouço.
— Você está surda?
—Eu pouco você.
— E que voz é esta que ouço?
—Eu só ouço a sua voz?
—E esta voz que ouço?
—O que ela diz?
— Eu não entendo.
—Como sabe que ouve e não sabe o que ela diz?
— Eu ouço. É som. É palavra distante como uma lembrança vaga, uma memória de tempos remotos. como quando a alegria é quase de verdade.
—Quase de verdade?
—É, quase de verdade
—É isso que a voz te diz?
—Não. Eu não a entendo. Essa é a sensação da voz ecoando em mim.
—Moça, eu só ouço a sua voz.
—E essa que eu ouço e não entendo?
—Deve ser a sua própria voz.
—A minha voz?
—É uma possibilidade.
— E o que estou dizendo?
— Moça, silencie, pare de falar. Quem sabe assim você entenda o que essa voz lhe diz.
Silenciar. Tento buscar espaços de silêncio dentro de mim, contato é tanto o barulho!Quero entendê-la ou calá-la. Ponho os pés na terra e tento silenciar ou , ao menos , aquietar meus pensamentos. Talvez a palavra que não compreendo seja, simplesmente, a palavra que ainda não foi escrita.
Comentários