O NOVO NORMAL >> whisner fraga

 


as gatas ciscam o vento no dia quente,

há critérios científicos atestando o calor da tarde de sábado,

procuro algo ameno que combata esse mormaço insensível,

mas não há nada:

as folhas murchas da cerejeira atestam a inutilidade da brisa,

corro para o ventilador, que me entrega apenas um sopro cansado, febril,

tento um livro, mas que página suportaria meu humor desagradável, cansado?,

sonho com um afago siberiano, aquela neve toda se debruçando nestas chamas,

tudo é vermelho e arde,

os panos se apegam demasiadamente ao corpo, num conluio de temperaturas,

quanto tempo até a noite e ao colchão que me enxotará de todos os sonhos?,

só há este assunto, a verdade dos termômetros,

e, ainda que não houvesse nenhuma medição, minha pele, meus músculos, meus ossos comprovam a enrascada em que nos afundamos.


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imagem gerada pelo dall-e, a partir da seguinte orientação: uma pintura de goncharova mostrando uma cidade grande em um dia a quarenta e cinco graus celsius.

Comentários

Ana Raja disse…
E não há uma perspectiva boa para o futuro!
Soraya Jordão disse…
Não me apetece nem os calores febris da paixão. Só quero que me gelem por dentro.
Zoraya Cesar disse…
E nossos ossos derretidos derramam-se em acusações: somos os culpados por nossa própria destruição. E seguimos em frente, como se o amanhecer fosse nos salvar.
Albir disse…
E há quem negue o aquecimento, a diminuição da calota polar, a desertificação!

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