AMIZADE >> Ana Raja


Preciso de amigos para viver bem. Quem não precisa? 

As melhores amigas eu sempre mantenho por perto. Me lembro das primeiras, da época da escola, quando estudar também era sinônimo de brincadeiras. Nessa fase da vida, começamos a exercitar um dos amores mais bonitos, e ele nos seguirá por toda a nossa história. Nem sempre serão as mesmas amizades. A vida é cíclica, assim como a passagem das pessoas por nós, mas elas deixam marcas na gente. 

Na adolescência, o relacionamento é explosivo, egoísta, intenso e inesquecível. Costuma-se andar em grupos e planejar juntos os mesmos sonhos. As risadas e o estilo de roupa são muito parecidos; a conexão é afinada, às vezes até frases são ditas em uníssono, e dá-lhe correria para achar uma cor verde e gritar “sorte”! Nessa fase, as lágrimas e as primeiras vezes têm de ser compartilhadas com urgência. 

Só não há como descartar o risco de decepções e rompimentos. Cicatrizes expostas vão se fechando ao encontrarmos com outros amores-amigos. Os tombos são necessários para o amadurecimento, e para eventualmente nos tornar capazes de enxergar que está tudo bem; talvez esbarremos em um antigo amor-amigo na rua, num domingo de sol, e quem sabe tomemos suco de melancia enquanto ouvimos o que o tempo ausente, um do outro, tem a nos dizer. 

Mais velhos, nossos relacionamentos podem ser ainda melhores, seja por conta das horas mais calmas ou pela certeza de um ombro. Algumas pessoas carregam para o futuro amizades lá de trás, ao acreditarem nelas como a base desse amor-amigo. Depois disso, fazem apenas novos colegas, não amigos.  

Eu sou um pouco diferente. 

Estou aberta a novos apaixonamentos. Adoro quando dou de cara com um amor-amigo, meu coração se alegra com mais esse novo abalo, e me dedico a essa construção. Amar na amizade é crescer, é ser feliz, é não ser nada e ser tudo ao mesmo tempo; e ele parece não desejar afastar, pois quando se encontra um amor-amigo é como se o tivéssemos visto na noite anterior. Dispensa-se as formalidades, vai-se logo ao que interessa. E o que interessa? O outro. O outro que também é feito de nós.


Imagem © StockSnap, por Pixabay

Comentários

Zoraya Cesar disse…
"Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito". Sal da terra. De repente seu texto me lembrou o filme, embora nao lembre o nome, com uma Winona Rider bem novinha, acho que Colcha de Retalhos. Lindo texto!
Soraya Jordão disse…
Imensa alegria de ser seu amor-amiga.
Jander Minesso disse…
Outro dia, li um livro meio clichê, onde uma médica de cuidados paliativos falava sobre os arrependimentos dos seus pacientes. Quase todos diziam que queriam ter vivido mais coisas com os amigos. Seu texto é uma lembrança da importância de fazermos isso. S2 pra você, Ana.
Ana Helena reis disse…
Lindo texto Ana querida!
São esses encontros de amor/amiga que tornam a vida tão deliciosa. Orgulho de estar entre elas!
Luciana G. disse…
Ahhh… te falei que ia chorar chorando e chorei novamente. Não dá pra negar o óbvio de que faço parte desse texto, do nosso convívio cotidiano, das risadas silenciosas ou silenciadas… e da perpétua e mutua marca que carregamos nesses anos todos. É vínculo, é sincronia, é paladar, é ombro, é palavra, é alma, é pra sempre!
Te amo minha Ana.
Soll Toledo disse…
Tão poético e verdadeiro, que chega a emocionar! Muito lindo! Parabéns!
Albir disse…
Que beleza, Ana!
A gente não pode esquecer disso. A vida se alimenta também de amizade.
Carla Dias disse…
Que beleza pode ter uma amizade, não? Até quando as coisas "ficam feias"... rs. É que a gente aprende que briga não é pra vida, discordar não é o fim do outro, e a falta da presença do outro dói.

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