CICLORROLETAS RUSSAS >> Albir José Inácio da Silva
As ciclovias crescem no Brasil e no mundo há décadas, apesar
das resistências. A má vontade com espaços seguros para corredores e ciclistas
era coisa de terraplanistas antiecológicos com inveja da saúde alheia.
Seguravam verbas e amarravam iniciativas de criação e ampliação das pistas. Mas
agora surgiu um novo e feroz inimigo.
Parece que as bicicletas movidas a braços e pernas humanas
perderam a batalha para as motorizadas. Não mais o fortalecimento dos ossos e
músculos, não mais a superação dos próprios limites, nada do suor que limpa o
organismo das toxinas e a alma das angústias.
Agora é o medo que nos invade nessas áreas de risco em que se
transformaram as ciclovias com a intrusão das máquinas mortíferas
autopropelidas por eletricidade e ódio. Que prazer sentem seus sádicos
condutores em costurar por entre corpos desprotegidos, tirando finos de seus braços, pernas e costelas e xingando os que não lhes dão
passagem ou reclamam de seu atrevimento!
Quantos ossos mais precisam ser quebrados, quantas cabeças
têm de encontrar o meio-fio, quantos corredores devem ser atirados no meio da
rua para que o bom-senso do poder público descubra que motores não podem
conviver em velocidade com humanos?
Os defensores desses engenhos diabólicos dizem que constam limites de velocidade na regulamentação. Mas eu pergunto, quem fiscaliza? Qualquer
frequentador de ciclovia sabe que as velocidades se aproximam de um rally de
motocicletas.
Alheios a esse macabro grand prix, que produz escoriações, fraturas
e traumatismos cranianos, nossas autoridades, guardas municipais e PMs, ficam
nas sombras das árvores e marquises, ou atrás dos carros de patrulha, de olhos
pregados nos celulares.
Se alguma vítima protesta mais alto porque acabou de escapar
de um atropelamento que lhe raspou o braço, o guarda levanta os olhos dando a
esperança de que vai agir, mas é só por alguns segundos e ele volta a se
concentrar no jogo ou na mensagem do zap.
Talvez os inimigos das ciclovias, que pareciam vencidos,
arranjaram uma maneira definitiva de acabar com a ousadia de corredores e
ciclistas que querem segurança durante os treinos.
Talvez eu desista da ciclovia para preservar a vida. Ou
talvez eu continue até chegar minha hora nessa roleta russa em que se
transformaram as ciclovias.
E se você, caro leitor, está tranquilo porque não usa a
ciclovia, não gosta de sol nem de caminhadas ao ar-livre, deixe-me tirar a sua
paz, porque a minha já vai longe: eles já invadiram as calçadas!
Comentários
Já tive o privilégio de visitar cidades alemãs em que as ciclovias iam de um lado a outro das cidades, sem oferecer perigo nem aos ciclistas, nem aos pedestres. E lá eles obedeciam aos limites de velocidade e aos sinais.
Não sei como está agora. Creio q essa praga zumbi esteja afetando toda a humanidade.
Até q voltemos a nos civilizar, odeio ciclovias e ciclistas, 'patinetistas' e entregadores de comida em geral