ELA >> Ana Raja
É contida nos gestos, toques de outros não lhe caem bem, se sente confusa nessas situações, mas há faísca de vida em seu olhar.
Eu sempre fui a carona no seu carro possante. Por todos os lugares por onde passávamos, alguém logo erguia os braços, acenando para nós.
Foi madrinha de algumas escolas da cidade. Nas comemorações do Dia das Crianças, ela aparecia em todas, distribuindo presentes e levando um bolo. Eu a ajudava nessa tarefa, e acabávamos o dia exaustas. Voltávamos para casa e comíamos milho de latinha refogado com arroz. Ainda sinto o gosto na minha boca.
Não gosta de poesia, prefere autobiografia, tem necessidade de entender questões mais complexas, talvez procure respostas para si, se espelhando na vida do outro, não posso afirmar com certeza. Mas, se a minha memória ainda funciona direito, ela não encontrou resposta para todas as suas perguntas.
Costumava chamar a atenção com seus cabelos longos e castanhos, que tinham o brilho da sua idade. Hoje, seus cabelos brancos, por opção, continuam na crista da onda. Atrai olhares, por conta da beleza sofisticada que carrega. Pensando melhor, talvez não. Ela atrai olhares por toda a construção que a fez assim, única!
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