VOCÊ FAZ SUA PARTE? >> Clara Braga

Nesses últimos dias as redes sociais foram tomadas por pessoas que pediam, para não dizer que elas demandavam quase como se fosse uma obrigação, que educadores parentais, psicólogos infantis e demais profissionais que lidam com criança e educação comentassem o recente caso Dalai Lama.

Eu entendo que casos que envolvem pessoas com a visibilidade e importância que Dalai Lama tem tomem uma proporção muito maior que outros casos. 

Mas, porque praticamente obrigamos as pessoas que trabalham diariamente com casos que infelizmente não ganham a mesma importância e, por isso, muitas vezes não se resolvem, a se posicionarem e comentarem esses casos? Parece até que nossa opinião depende da opinião dessas pessoas! Será que perdemos a capacidade de termos opiniões próprias?

Não há outra forma de comentar o caso: é pedofilia! Não interessa quem pratica e qual a desculpa que arrumou, é crime! 

Líderes religiosos transmitem valores com os quais podemos nos identificar, mas devemos sempre nos identificar com ideias e não idolatrar pessoas. Pessoas cometem erros dos mais diversos níveis e quando as idolatramos, acabamos buscando formas de amenizar situações por vezes criminosas.

E é aí que está o problema. O crime não deixa de ser crime por causa de quem cometeu. É fácil reclamar e esbaforir nas redes sociais quando quem comete o crime não é alguém da nossa família ou um amigo próximo.

O que eu quero mesmo saber dessas pessoas que demandam que todos se posicionem e comentem os casos nas redes sociais é se elas também demandam posicionamento e soluções quando um amigo faz uma piada homofóbica. Se essas pessoas questionam parentes que dizem que a criança tem que apanhar para aprender. Se essas pessoas corrigem aquele melhor amigo que fez uma piadinha que envolve a segurança infantil.

Pessoas que trabalham em prol da educação e segurança de crianças, que dedicam suas carreiras a criar conteúdos de relevância que vão ajudar pais a protegerem seus filhos, eu já sei como se posicionam em relação a esses casos. 

Agora, e você, no seu microcosmo, como se posiciona? Você também faz sua parte ou espera que os outros façam por você?

Comentários

André Ferrer disse…
Pois é, Clara, é esse "senso crítico seletivo" que permeia a nossa sociedade ultra-informada. O que acontece na paróquia, invariavelmente, fica abafado. Muitas vezes é edulcorado. Fim de papo. Agora, o que acontece no espetacular universo do enredamento social merece passar por esse crivo seletivo. As pessoas tem essa necessidade de parecerem muito bem informadas e críticas, mas é só naquele nível impalpável do espetáculo socio-midiático que, na paróquia, onde acontecem as maiores e mais palpáveis perversidades, nem chega a tocar. Hipocrisia em resumo. Ótimo o seu texto!
Zoraya Cesar disse…
As pessoas pedem que educadores eduquem. Aí vem uma professora e faz uma postagem com o 'look chacina'. Hipocrisia, como vc falou, de um lado; desumanidade por outro. TExto moderno e ultrapertinente.
Nadia Coldebella disse…
Eu sinceramente não acompanhei a história do Dalai Lama. Eu sou aquela profissional que lida com casos de abuso diariamente. E digo que é muito difícil comentar qqr caso semelhante.
Muito obrigada pela coragem do texto.
Albir disse…
Verdade, Clara. As pessoas têm coragem de defender violência física como ferramenta de educação. Assustador! E com tanta certeza que, sobre isso, não querem saber a opinião dos educadores e psicólogos.

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