QUEM INVENTOU O TEMPO? >>> Nádia Coldebella

Uma rápida pesquisa no Google me revela de cara um complô. Eu vou contar com detalhes, porque essas coisas o Google não conta.

 


Os romanos foram os primeiros a dividir o ano em doze partes. Acontece que o César estava muito entediado e não tinha o que fazer. Pensou em colocar fogo em Roma, mas não achava graça roubar a ideia dos outros. Enfadado de conquistar, matar, esquartejar, comer, beber e transar, ele estava sentadinho lá, no seu trono de mármore, queixo apoiado nas mãos, olhando seu busto ser esculpido por um exímio escultor que ele tinha dado uns pega outro dia. Foi quando reparou nos galinhos de louro colocados atrás da orelha da sua futura estátua. Ninguém me contou, mas eu sei que foi assim: o escultor marcava uma folhinha para cada dia que esculpia o Cesar, e já era tanta folha, que nem dava mais pra ver o cabelo da estátua. Foi nessa hora que o César pensou:


- Daqui a pouco, essa estátua vai fazer aniversário.


Oh!!! Espantado com a própria astúcia e engenhosidade - sim, o tédio pode ser um bom fermento para a criatividade - ele mandou o escultor contar as folhinhas de louro e depois dividiu tudo por doze, porque doze era o número de pessoas que ele tinha dado uns pega naquela semana. Mesmo a conta não sendo exata, deu um jeitinho, tirou um dia aqui, outro ali e lascou fevereiro.


Pronto, nessa história, ele inventou o aniversário, as rugas e a velhice. E mais tarde, quando sentiu o peso da idade e percebendo que ainda não tinham inventado a plástica, mandou matar o escultor, que ainda não tinha acabado a estátua.


Embora Cesar não tenha gritado Eureca para sua descoberta, os astrólogos de Alexandria, no antigo Egito, viram ali a oportunidade de criar os feriados. Olhar para o céu dia e noite, o dia todo e todos os dias não é uma coisa fácil. Essa gente andava com muito torcicolo, além de  bico de papagaio, bruxismo e crises de ansiedade.


Reuniram-se numa conferência alto-astral, porque de pescoço doído não podiam abaixar as cabeças, e agruparam os dias em sete. Depois avisaram  ao chefe supersticioso que tudo aquilo estava escrito nas estrelas e que, a partir de agora, não podiam trabalhar sábado e domingo:


- É isso, Faraó, ou Saturno se junta com Netuno e sabe-se lá Deus o que vai acontecer.


Lógico que o Faraó concordou, não sabia ler estrelês, só que ficou preocupado com as férias e décimo terceiro dos pedreiros que faziam pirâmides. Não vou entrar nessa questão que não é da minha conta, mas acho sinceramente que os magos de Alexandria erraram fenomenalmente. Se tivessem me consultado, eu os teria orientado para que dois domingos e dois sábados fossem colocados em cada semana. Foi o que Júpiter me disse, quando li as estrelas hoje, ao meio-dia.


A notícia da junção dos dias em semana se espalhou rapidamente e lá na Babilônia, uma criatura sinistra, sentada num jardim e mais entediada que o César, resolveu medir o tédio que sentia.


Vejam isso! Esta pessoa, meus senhores, teve a capacidade de dividir o dia em doze horas - tinha predileção pelo doze pelo mesmo motivo que o César. Mais tarde lembrou que pegava geral só à noite e colocou mais doze horas. E como se não bastasse, inventou o relógio de sol e mandou construir um no jardim. Desde então, passava os dias sentada em frente a ele, medindo o tempo que durava seu tédio.


- Gente, e esse tempo que não passa? - Disse ela um dia, resolvendo dividir cada bloco de tempo em blocos menores e cada bloco menor em bloco menor ainda.


Inventou minutos e segundos e inventou a ampulheta. E pronto. Fundou a primeira fábrica de relógios do mundo e ficou rica. Pura verdade.


Mas não é só isso!


De tempos em tempos, alguém muito mal intencionado nasce e inventa mais alguma coisa para dividir o tempo: minutos, segundos, microssegundo, femtossegundo, attossegundo… Juro que tenho vontade de dar uma chegadinha nesse povo e perguntar: Qual é, cara? Pra que tudo isso?


César e sua gangue não sabem com quem estão mexendo. Eu sou contra o tempo.


Saiba, meu amigo, que o tempo é o conceito que cria no ser humano a ideia de presente, passado e futuro, de continuidade, início e fim. É  uma invenção perversa para te deixar no quadrado das coisas. Acho que por isso que o inventaram: querem me convencer que meu tempo está acabando, que estou ficando velha, caquética e com reumatismo…  Querem que eu fique viva apenas entre entre os 20 e 40 e depois diga, “no meu tempo isso, no meu tempo aquilo”...


Mas eu descobri que se você ficar um dia sentado numa floresta, isolado dos sons e luzes da cidade, do seu celular ou dos relógios e ampulhetas, vai perceber que na natureza não existe um tempo, mas muitos tempos. Uns mais rápidos, como o da borboleta, outros longos, como o dos carvalhos… E que nenhum deles vive o tempo, mas vive apesar do tempo, como se não existisse um tempo. Eles vivem sem a preocupação das horas, sem a contagem dos minutos e a ansiedade dos segundos. E embora pareçam não se importar, vivem a plenitude da existência e sabem entender, de alguma forma, quando tudo termina.


Comentários

Mauro Fregolon disse…
Hehe, sou estudioso de história, tímido e formalista de caráter, então tive muita dificuldade em ver o humor por trás das informações incongruentes e anacrônicas.
🤣🤣🤣🤣🤣🤣
Análise pós prolegômenica e auto referencial:
Existe uma forma pacífica de acordar o problema do tempo, ou a questão tempo.
Que consiste em considerá-lo um presente, uma dádiva!
E pensar nos compromissos como desafios e na rotina como saúde, entre os contratos de trabalho e compromissos pessoais se prática esportes, medita, lê e se diverte com a família e amigos
Cheers
branco disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
branco disse…
que delicia!
entrar no site e dar de cara com uma lindeza sua.
engraçado, aliás muito mais que engraçado, eu diria que otimamente bem humorado e escrito é o melhor, , a profundidade que somos levados nem é percebida.
esse é daqueles que aprendemos enquanto sorrimos e para se conseguir isso o autor deve ter alegria, conhecimento melancolia e talento, e você tem isso e mais. abração do Lord White e outro meu(adoramos o que lemos!)
André Ferrer disse…
Tempo é controle. Assim como o medo. Os romanos eram vidrados em controle. Certa vez, enxergaram a tecnologia máxima do controle social na própria... rebelião. Aquele povo, chamado cristão, aos olhos de um imperador, trazia o método mais perfeito de controle. A doutrina unia o tempo, o medo, enfim, uma narrativa espetacular! E, assim, nasceu a igreja de Roma.
Zoraya Cesar disse…
" E mais tarde, quando sentiu o peso da idade e percebendo que ainda não tinham inventado a plástica, mandou matar o escultor, que ainda não tinha acabado a estátua." HAHAHAAHAHAHA, morri de rir até os dois últimos parágrafos.

Nádia, Countess Velvet nao à toa. que reflexão ímpar! Sim querem nos prender nas cadeias do tempo, dizer o que é conveniente para a idade e demais crueldades (nao tem o caso das babacas q debocharam de uma colega de faculdade pq tinha 40 anos?).
Infelizmente nao temos a sabedoria dos animais que sabem qd vao morrer de doença ou velhice e se deixam levar. Falta-nos tudo, até a sabedoria de viver o momento presente.
Texto maravilhoso!
Nadia Coldebella disse…
Querido Mauro, não quero que o tempo acorde, nem pacificamente. Prefiro que ele fique dormindo.🤪

Caro Lord, fale pro seu outro eu que fiquei muito contente com os generosos elogios☺️

André, meu amigo, nessa altura da minha vida, o único controle que desejo é o remoto, pra maratonas algumas séries qdo sobrar um tempinho😂😂

Minha Killer favorita, e não é? Estão tentando nos aprisionar... Eu e vc precisamos de um plano para matar o tempo 😈🥴😋

Muito grata pelos comments!

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