PICADINHO DE CARNE NO BAR DA DONA ONÇA >> Sergio Geia
São Paulo, sábado, 11h38min.
Depois de um passeio delicioso pelo Parque Villa-Lobos, de uma viagem imersiva incrível pelas paisagens de Claude Monet, saímos do Uber na Ipiranga, próximo ao icônico Edifício Copan. Uma pequena caminhada agradável sob o céu azul de Sampa (mas com vento, muito vento), quando, ao longe, avistei a pequena fila.
Mais perto, percebi o falseio. Eram duas filas. Uma, para aqueles que tinham feito reserva. Outra, para os sem-reserva. Como não tinha feito a reserva, aguardamos na fila menor, dos sem-reserva, o Bar da Dona Onça abrir, ao pé do Copan, centrão de São Paulo. Teríamos que esperar a entrada dos com-reserva, pra ver se sobraria mesa ou esperar algumas horas; não esperaria, claro.
Na tela do celular eu olhava as imagens. É no Dona Onça que acontece o famoso evento “Águas de Janaína”, no mês de Iemanjá. Vejo baianas, tambores, ramos, mulheres dançando. E Janaína, a própria, distribuindo ramos para as baianas. Renovar as energias, tirar o mau olhado, dar uma revigorada. Geralmente o que faço através dos meus banhos de mar. Deve ser tão bom... E pensar que num 2 de fevereiro eu estava em plena Salvador dando as costas para a festa no Rio Vermelho e me enfiando na praia de Buraquinho. E me veio outro pensamento lido outro dia: “Todos nós fazemos escolhas na vida, o difícil é conviver com elas”.
Dez minutos depois de aberto, a mocinha veio dizer que poderíamos utilizar uma mesa na área externa ou aguardar mais ou menos uns vinte minutos, quando então as mesas reservadas da parte interna, sem a presença do reservantes, seriam liberadas. Apesar do vento, não vacilei: mesa do lado de fora.
Dona Onça era um bar que eu queria conhecer. Comandado pela chef Janaína Rueda, o bar se intitula como um reduto da boemia e da tradição paulistana. É de dar água na boca o menu com cozidos, arrozes, massas, comidinhas de boteco e drinks. Em setembro de 22 a Exame (https://exame.com/casual/conheca-os-melhores-bares-de-sp-no-ranking-da-casual-exame/) considerou o Bar da Dona Onça como um dos melhores bares de São Paulo.
Pedimos de entrada minicroquetes de carne de panela com um toque de maionese e uma minúscula folha de agrião; pra beber, aceitamos a sugestão do garçom, a famosa caipirinha Onça Pintada: de tangerina e maracujá, com cachaça artesanal do interior de São Paulo; água sem gás pra rebater.
Saboreávamos os minicroquetes sem pressa, deixando a caipirinha delicada e saborosa entrar em ação. O bar enchia, dentro e fora, gente que o conhecia pela primeira vez, como nós, ou freguesia acostumada às delícias. Quando fui ao banheiro percebi a área interna lotada, abafada e barulhenta; agradeci por ter escolhido ficar do lado de fora.
Chiara foi de tartar de mignon com fritas. Eu tenho um fraco por picadinho de carne. Na dúvida entre o picadinho e a galinhada — um dos pratos mais pedidos —, fui de picadinho. Ele veio com arroz, feijão à parte, tartar de banana, ovo frito com gema mole e pastel de catupiry. Devoramos.
O vento persistia arrastando poeira, derrubando guardanapos e penteados. Pensa que estávamos preocupados? Sem espaço, recusamos a sobremesa. Com o celular na mão enviava mensagens, arrumava fotos, quando o garçom, depois de quitada a conta, sugeriu que tivéssemos cautela, há roubos na região, ele disse; nem precisava. Enfiei o meu no bolso, da frente, claro, e saímos pra caminhar.
Sempre que estiver em São Paulo, o Bar da Dona Onça tornou-se para mim um programa obrigatório. Se há recordações de momentos de imenso prazer gastronômico, certamente um deles é lá. Mas na próxima vou de galinhada, penso. Ou não. Acontece que tenho uma fraqueza por picadinho de carne. Tranquilo. Na hora decido. O importante é relaxar e gozar, certo? E com a Onça Pintada para apimentar a relação.
P.S.: 1. Que fique bem claro: não se trata de propaganda. Eles não precisam. E eu não sou mais do que um simples cliente. 2. Ilustração: Pixabay. 3. Fotografias: arquivo pessoal.
Comentários
(Vem cá, Serginho, só entre nós: eu não bebo, mas consegue pra mim a receita da caipirinha? É pra fim puramente científico).
Bjs!