UM DIA FORA DE MIM >> SORAYA JORDÃO
Caminhar no calçadão da Barra da Tijuca é a minha atividade física favorita. Ouvir a playlist ou as aulas on-line, enquanto observo o humor do mar nas manhãs de domingo, rejuvenesce meu ânimo. Contudo, no feriado, minha inquietude constitucional demandou uma nova abordagem do mesmo trajeto. Assim o fiz. Decidi caminhar perscrutando o brincar da vida com o tempo entre as pessoas, bicicletas, barracas, cadeiras, cães e cocos.
Surpreendente perceber tudo o que existe para além das margens demarcadas pelos meus óculos. Histórias, expectativas, cicatrizes, apostas, incômodos, ostentação, miséria, tudo ali na vitrine da manhã.
Abri mão da alienação que me aprisiona ora em reclamações, ora em expectativas e lancei-me no mundo. Sem medo. Só curiosidade, olhar e registro. No percurso encontrei tênis coloridos, corpos sarados, maquiados, cílios postiços, quiosques, corpos enrugados, magros, gordos, cachorros, redes, bola na mão, no pé, no alto, gente chapada, embriagada da noite que insiste em não fugir, perfumes florais, carros, motos, mar esverdeado, ondas adolescentes a se esfregar na areia, céu azul, nuvens brancas, mate leão, crianças rindo, sorvete, água mineral, suor, casais apaixonados e desenganados, blusa do Fluminense e Posto 7. Eu, eles, nós e tudo mais a existir e inexistir, simultaneamente, a depender do clique de um olhar.
Enquanto isso, a vida tropeça, o tempo zomba do tombo e eu transbordo sorrisos para os rostos sem nome que passam por mim sem me notar.
A vida é farta de grãos, esbanjadora de oportunidades, descobertas, invenções e recomeços. Tudo ofertado na coreografia dos dias, a um centímetro do nosso umbigo.
A gaivota cruzou a linha do olhar... voei com ela por muito tempo.
Voltei para casa repleta de sensações, impressões, afetos e humanidades.
Comentários
Esse tipo de texto me encanta.
Observar o humor do mar nas manhãs de domingo: eu quero!
Pena que em Taubatexas não tem mar.
Que delícia de crônica.