TRISTEZA AZUL E BRANCA >> Albir José Inácio da Silva

 

Peço desculpas pela demora em apresentar minhas condolências, passada já uma semana da tragédia que se abateu sobre sua gente. Difícil encontrar palavras que hipotequem solidariedade e transmitam esperança.

 

Conhecemos bem essa dor. Na banda sul, todos conhecem a maldição colonial que nos arrasta há séculos para a escuridão intermitente.

 

Sei que aí ameaçam destruir as instituições, permitir o tráfico de órgãos, entregar os bens públicos e acabar com sua moeda, adotando o dinheiro da matriz como os colonizadores.

 

Sei que ameaçam expulsar as avós da Praça de Maio, mas elas são eternas em sua determinação e luto.

 

Passamos por isso recentemente.  Assistimos impotentes a morte de milhares de nossos pais, mães e irmãos por falta de remédios, enquanto o tirano arremedava a morte por apneia.

 

Também invadiram nosso jardim e mataram nosso cachorro, como no poema de Eduardo Alves Costa.

 

Por aqui também a sociopatia subiu ao poder e atacou a democracia, mas sobrevivemos. Vocês também podem.   

 

Agora é tempo de resistir como fizeram no passado, melhor que nós porque mandaram seus tiranos pra cadeia, enquanto aqui perdoamos os nossos para que voltassem ao ataque.

 

É tempo de proteger os livros de História das revisões fascistas. Não permitam que escondam o sol da sua bandeira.

 

Cuidem uns dos outros, até dos iludidos que apoiaram a loucura, porque vai doer em todos.

 

Juntem-se nas ruas, retomem seus estandartes, pintem seus rostos porque, no dizer de Brecht, “a cadela do fascismo está sempre no cio.”

 

Serão tempos difíceis, chorem, se tiverem de chorar, mas levantem a cabeça!

 

Não é hora de tocar o tango argentino da capitulação como o nosso desenganado Manuel Bandeira em Pneumotórax.

 

É tempo de bradar mais uma vez com sua Mercedes Sosa:

 

- Mira adelante, Hermano!

 

Comentários

Jander Minesso disse…
Pois é, meu caro: agora, resta observar como será mais esse capítulo da História. Pelo retrospecto, nossos vizinhos não são muito de aguentar calados.
Excelente e muito pertinente sua crônica, gostei das referências!!
Zoraya Cesar disse…
Maid um capítulo triste na História da América Latina. Pelo menos rendeu uma bela crõnica de D. Albir, um tango triste.
Anônimo disse…
Crônica pertinente do Albir sobre um louco que quer as Ilhas Malvinas. Isso pode dar muito errado. André Ferrer aqui.
Soraya Jordão disse…
Está no cio e solta pelo chão do mundo, o que é pior. òtimo texto.
Carla Dias disse…
Albir, este texto tem a capacidade de, diretamente, tirar o véu das fronteiras. Espero que um dia sejamos capazes de nos cuidar e nos tratar como o que somos: pessoas. E nessa condição, reconhecermos o quanto de ruim temos feito a nós mesmos.
Albir disse…
Obrigado, Jander, Alfonsina, Zoraya, André, Soraya e Carla, pelo carinho dos comentários.

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