QUASES >> Carla Dias
Caminha ao lado de todos, é parte de um inteiro do qual ainda não conhece o mapa. Às vezes, basta o copo de água na hora da sede, em outros, a respiração encurta como se não tivesse volta enquanto as notícias contam histórias de agoniar, fazendo o pensamento navegar em possibilidades e o ilusório maldizer a salvação. Quem resta para salvar nesse lugar-nenhum que se tornou?
Em um sem querer tendencioso, transforma banalidade em engodo. Acontece quando necessita reconhecer uma resposta não coreografada. Prefere a companhia da tentativa, apesar de ela estar destinada a não vingar.
Afunda as unhas na palma da mão, a fim de acordar em si a realidade. Há horas, responde a mesma pergunta com a mesma resposta. Ainda falta quase uma hora para se despir do trabalho. Sua função é fazê-lo sempre com um sorriso acolhedor, pois saber onde fica, e ser responsável por compartilhar tal informação, é resistir ao libertar grunhidos e respeitar deselegância alheia.
Nem sempre aprecia compartilhar o onde fica o algo.
Apesar da vista prejudicada, o olhar se mantém indócil e vagueia por proibidos - coisas e sentimentos -, causando solfejo descompassado à respiração. Nos aprisionamentos, emenda fugas para evitar sujeição.
A retribuição a quase tudo o que faz - vive - vem em forma de displicência. Não é autopiedade, sempre a temeu, trabalhou duro para não se tornar refém dela. O que lhe toma é a nevralgia do remendo, do quase insistente a preencher seus desfechos, fazendo o deleite morrer na boca da falha, agulha longa, fina, atravessando corpo, mente e espírito.
Na quase hora de sair do trabalho, o corpo quase se rendendo ao cansaço da alma, quase sorri murcho, de incredulidade. Resgata o sorriso fugidio antes de alguém o perceber.
Sabe que os quases são precipícios convidativos. Durante as quedas que eles providenciam, morrem desejos.
Comentários
QUE FRASE, QUE SENTENÇA!!! p^t@ que p@riu, D. Carla Dias, como se já não bastasse o tema balançador de inseguranças, ainda esse final matador.