INJEÇÃO >> Sergio Geia

 

Há meses sinto dores no braço esquerdo, entre o ombro e o cotovelo. Não é constante, aparece de vez em quando, em certos movimentos como enxugar as costas após o banho, ou vestir um agasalho. 

 

Bastou uma semana de dores intensas (#crise), para eu bater à porta de um amigo ortopedista, o Minicucci. 

 

Tendinite? Bursite? 

 

Por ora, uma receita de anti-inflamatório, injeção e um pedido de ultrassom. 

 

Na farmácia, solicitei o remédio, a injeção, paguei e fui ao reservado aguardar a aplicação. 

 

A aplicadora era jovem, simpática e logo entabulamos uma boa conversa. 

 

Expliquei sobre as minhas dores, a possibilidade de tendinite, o fato de dirigir muito, o trabalho no computador, talvez isso contribua. Ela me falou da mãe, que dois médicos indicaram cirurgia, que a injeção que eu iria tomar ela tomou, que o anti-inflamatório que eu tinha na caixinha lhe serviu, que duas semanas de remédios e fisioterapia resolveram o problema, sem cirurgia; fiquei confiante. 

 

De repente, ela me fez uma pergunta inusitada: 

 

— Glúteo direito ou esquerdo? 

 

Eu demorei a entender. 

 

— Como assim? 

 

Meu primeiro pensamento foi a cueca. Qual? 

 

Com o intuito de ganhar tempo, completei: 

 

— Não é no ombro? 

 

Precisava de uma análise rápida. Dependendo da situação, remarcar. Mas ela olhava pra mim, seringa na mão. 

 

— Não. É no glúteo mesmo. Mais seguro, entende. Então, você prefere o direito ou esquerdo? 

 

Não remarquei. 

 

A cueca era a vermelha, uma boa cueca por sinal, apesar da cor. 

 

Pior uma amiga de trabalho. 

 

Precisando de uma injeção, desistiu da farmácia que costumava frequentar, pessoas conhecidas, sabe como é, foi em outra. 

 

Tal a surpresa quando, no reservado, deparou-se com o farmacêutico seu vizinho, pronto para a contenda. 

 

— Você? — ela perguntou. 

 

Era tarde. 

 

 

Ilustração: Pixabay