BOLO DE DINHEIRO >> JANDER MINESSO

 


Olá, seguimores, tudo bem? Hoje, vou ensinar para vocês uma receita prática e bem gostosa de bolo de dinheiro.

Para essa receita, você vai precisar de dinheiro (claro), pessoas, espírito empreendedor e paciência. O preparo é complicado, mas parece fácil. E tem que parecer, senão as pessoas que não manjam de confeitaria financeira começam a ficar bravas com a gente. O ideal é dar a impressão de que qualquer um pode fazer essa delícia e que, se alguém não conseguir, é por pura incompetência. Dito isso, vamos lá.

Antes de mais nada, vamos precisar de grana. O ideal é você usar uma matéria-prima mais nobre como dólar, libra ou euro, mas tenho amigos que conseguem fazer um bolo bem razoável usando real e outras moedas mais pobrinhas. Esta receita é básica e vai bem com qualquer dinheiro que você tenha à mão. Então, por ora, pegue toda a grana que você conseguir, sua ou dos outros, e coloque numa tigela grande.

O próximo passo é adicionar pessoas à mistura, também conhecidas como mão de obra, trabalhadores ou colaboradores (varia muito de um lugar para outro). Muita atenção na escolha deste ingrediente: o bolo não fica bom se você usar um trabalhador meia boca. Na minha experiência, a melhor mão de obra é aquela que pega fácil o gosto dos temperos que a gente coloca, como a meritocracia e o medo de perder o emprego. E se você quiser pré-tostar o trabalhador até ele atingir o ponto de burnout, dá um aroma bem especial. Outra coisa importante: apesar da bufunfa agir como um fermento na mistura, o peão ideal é aquele que cresce bastante com pouco dindim. E se você não quiser gastar nessa hora, pode trocar o dinheiro por um cargo com nome bonito. Chefe, por exemplo, é tiro e queda. Mas dependendo do material, um simples pleno ou sênior já funciona e a massa cresce bem.

Ainda falando sobre colaboradores, evite aqueles que trazem na fórmula componentes como consciência de classe e sindicalismo. Eles não são certificados pela Anvisa, reclamam muito, trabalham pouco e seu bolo vai acabar no bolso de algum advogado trabalhista. Sorte que existe muito sindicalista de araque, que só finge ter a tal consciência de classe. Se você encontrar e souber trabalhar com esse tipo de ingrediente, ele até te ajuda a mexer melhor a massa de manobra. Dá uma liga maravilhosa.

Depois de juntar o dinheiro e as pessoas, misture bem com a mão oculta do capitalismo até incorporar. E aí, pouco a pouco, você vai adicionar o espírito empreendedor na massa. Inclusive, muito cuidado nessa hora. O empreendedorismo é um ingrediente raríssimo, presente apenas nos alecrins dourados, nas pessoas iluminadas que fizeram por merecer e ralaram muito para chegar onde chegamos. É tipo açafrão, sabe? O de verdade custa caro e é difícil de achar, então tem gente que substitui por cúrcuma. A cúrcuma do empreendedorismo é o parente rico que a gente não menciona na biografia. Funciona igual.

Misturados os três ingredientes, deixe a massa descansar um pouco e depois coloque no forno, também conhecido como Mercado. E aqui vem o último pulo do gato, que é a paciência. Como diria o chef pâtissier Delfim Neto, primeiro a gente precisa “fazer o bolo crescer para depois dividi-lo.” Por falar nisso, muitos confeiteiros amadores me perguntam qual é o momento ideal para dividir o doce. Simples: o momento ideal é sempre depois. Agora nunca é uma boa hora. Mas evite dizer isso para a peãozada que entrou na receita. Aliás, às vezes eles vão parecer uma criança mimada perguntando se já pode comer, mas insista no não. Se acharem ruim, é só falar que a crise tá braba ou que o Mercado ainda não aqueceu o bastante.

Agora, um alerta: um dia, você pode esbarrar com aquele trabalhador que ajudou seu bolo a crescer tanto, mas tanto, que talvez até valha a pena abrir mão de um pedacinho. Se for o caso, espere ele pedir. A maioria sofre de culpa católica e nunca pede porque acha que enriquecer é pecado. E já que o assunto é religião, fica a dica: se você usou um colaborador do tipo ateu esquerdista, vai ser mais difícil trabalhar a cocção. Aí, o jeito é jogar uma pauta de costumes na mistura para desviar a atenção e amaciar um pouco a coisa.

É isso, amores. Se você seguir essa receita passo a passo, vai ter um bolo enorme e todinho seu. Fácil, né? Espero que todo mundo tenha gostado. Depois me conta se funcionou e se não der certo, já sabe: a culpa é sua. Sigam o canal, cliquem no sininho e não esqueçam de deixar um like aqui embaixo. Semana que vem, a aula é de artesanato e eu vou te ensinar a fazer sua própria carteira de investimentos. Beijo, tchau.

Imagem: Pixabay

Comentários

sergio geia disse…
Jander de Deus, que massa! Ô crônica inteligente, atual, sarcástica, irônica, debochada. Cara, isso é biscoito fino, finíssimo. Alto nível das brabas. Show demais! Em muitos momentos você me trouxe Antonio Prata. Cara, isso não é pra qualquer um. Estupefato aqui.
Nadia Coldebella disse…
Sensacional! Adorei essa pegada faça você mesmo. E a escrita tipo blog ou narrador de vídeo DIY foi de uma sacada incrível! Esse é o tipo de texto pra ser reproduzido em livros escolares futuros... Se bem que do jeito andam as coisas, é bem capaz que ignorem a fina ironia que vc traz. Um perigo!
Anônimo disse…
Ri muito. A culpa católica, é verdade, tem impedido que muito ser humano apareça na capa da Forbes. Texto que merece ir para o próximo livro do Crônica.
Anônimo disse…
Ri muito. A culpa católica, é verdade, tem impedido que muito ser humano apareça na capa da Forbes. Texto que merece ir para o próximo livro do Crônica. André Ferrer aqui.
Lady Killer disse…
que show,Jander! Pior q vc tenta engabelar o leitor exatinho os espertalhões fazem. Receita certeira e infalível, e com sua ironia sarcástica, o fino! Só faltou o ingrediente cara de pau, mas acho q nem precisa. A cara de pau seria para um bolo de dinheiro gourmet. Inspirado esse!
Ana Raja disse…
Jander,os seus seguimores agradecem a beleza de texto que você escreveu.
Cada vez mais fã!
Albir disse…
Jander, que maravilha! Encantado aqui!
Paladar é uma coisa pessoal, cada um pode gostar de uma coisa. Mas acho que quem anda fazendo essa iguaria como ninguém, tipo exportação, é o Banco Central. A gente percebe todos os ingredientes que você informou e o resultado é devastador.

Postagens mais visitadas