DESCANSE SUA PRESSA NOS BRAÇOS DA MINHA PRESENÇA >> Carla Dias
Quem sabe eu seja insuficiente aos seus departamentos, incapaz de resolver o imediato na cadência dos seus desesperos. Uma folha arrastada pelo vento até o bueiro que vai dar em destino não escolhido.
Às vezes, eu me enxergo do mesmo jeito que seu olhar sugere: um avesso, o outro lado da rua, a inequação, a canção indigesta — de autoria de verdades aflitas, quem atende somente às predeterminadas situações.
Percebe que a dedução sobre o somente nos priva do provável encontro com o diferente? Ele que tem como objetivo nos tirar da rotina gestada pelo óbvio e armadilhas que criamos para nós mesmos?
Mas eu sei que o diferente o fascina. No entanto, ele nos chega incompleto quando o observamos à distância. Há mérito em nos aproximarmos dele, observar suas qualidades, compreender suas fissuras, porque bonito é o diferente que nos acolhe.
Você pode até desconfiar do que lhe digo, mas houve vez em que enxerguei, na respostas do seus gestos, a compreensão sobre essa faceta da liberdade. E seu olhar sorriu... ele não é disso.
Mas tem espaço para se tornar.
Tornar-se é jornada que vai além do planejamento. Penso nisso quando coordeno meus afazeres: descobrir como sobreviver a mim diante do espelho das gasturas, formas, ideais; cuidar do almoço, das contas, responder mensagens recebidas no celular, mas especialmente as que sussurram nos meus ouvidos.
Talvez a busca de mim desague feito impopularidade diante de você, porque sei que remexer as gavetas de si mesmo é algo que o assusta.
Eu sei que posso ser pouco, menos até do que você acredita. Mas aprendi a identificar quando ainda há lugar para mim em uma história. Aprendi a nunca partir antes do fim.
É ali, nos braços de alguns fins, que brotam começos. Enquanto ele não chega, descanse sua pressa nos braços da minha presença.
Comentários
Talvez eu esteja cansada, ou obtusa, pois, lendo os comentários, percebi q só eu dei uma leitura diferente. Li como se o narrador estivesse falando para um amor que está de corpo presente, mas não com a alma, só que ele ainda nao sabe. O narrador sabe, e, tristemente, deixa esse amor ficar ali, até que esteja preparado para ir ou ficar. Delírios. O que importa é que amei seu texto. Como se isso fosse novidade!