UMA CASQUINHA E A CONTA << SORAYA JORDÃO
Há alguns dias, uma matéria publicada no jornal O Globo fisgou minha atenção: desde 2012, a felicidade tem uma data oficial para sua comemoração.
O dia 20 de março foi, oficialmente, proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, o Dia Internacional da Felicidade. E, a contar desse feito, anualmente, a entidade publica um relatório com o Índice Global de Felicidade.
O resultado é calculado com base em cinco critérios: rendimento (PIB per capita), apoio social, esperança de vida saudável, liberdade de tomar decisões sobre a vida e ausência de corrupção.
Cada país recebe uma classificação que leva em conta a percepção dos seus habitantes sobre a sua vida em geral e o seu bem-estar, com base na presença de emoções positivas e negativas. Também considera a felicidade dos indivíduos nas diferentes fases da vida.
A partir desse levantamento mundial, descobriu-se que, nos últimos sete anos, a Finlândia é a nação mais feliz do mundo. O Brasil ocupa o 44º lugar, depois de subir cinco posições no último ano.
Diante do exposto, me abraçou uma certa angústia e uma dúvida: o tal dia 20 de março é motivo de festejo ou lamentação? Existem 43 nações mais felizes do que a nossa. Bate uma inveja... Por outro lado, quantas são mais infelizes? Bate uma soberba… novamente se apresenta a questão do copo: devemos considerar que ele está meio cheio ou meio vazio?
Como ponderar sobre a felicidade quando temos ciência do extermínio dos palestinos, guerra na Ucrânia, fome na África, o racismo e o fascismo que brotam em todas as brechas do mundo, escalada da violência, feminicídio, homofobia, transfobia, fanatismo, violência sexual contra crianças e mulheres, miséria, os extremistas, o esfriamento dos afetos?
Talvez fosse mais produtivo avaliarmos os índices de infelicidade mundial, considerando critérios como: quantas vezes você se sente só, inseguro, amedrontado, incapaz, subestimado, oprimido, fracassado, impostor?
Quem sabe, assim, o mundo acordaria para o seu desmatamento emocional.
Na impossibilidade de resolver sozinha as questões universais, talvez fosse prudente comprar uma passagem só de ida para a Finlândia. Mas pera lá: não suporto frio extremo, a carne de alce não me apetece e sinto uma certa resistência para provar o salmiaki, doce típico do país, que, segundo ouvi dizer, mais parece uma jujuba preta de gosto amargo e ardido.
Melhor não. Quem sabe a felicidade não carece de tanto empenho... talvez ela more numa casquinha de sorvete.
Comentários
Amei, sim, a felicidade às vezes está numa casquinha de sorvete. Sem o sorvete, no meu caso.
Belíssimo texto.