A VITROLA >> Sergio Geia
Tenho em casa bons discos de vinil; pelo menos, ao meu gosto.
Live at the 19 th Montreux Jazz Festival, de João Gilberto, de 85, por exemplo. Coração Brasileiro, de Elba Ramalho, de 83. Pipes of Peace, de Paul MacCartney, também de 83. E outros tantos.
A mudez de um acervo tão valioso, pelo menos a mim, esquecido no fundo do armário em meio a tanta tralha, me entristecia; não havia onde falar.
Nesta semana, porém, o maior acontecimento de que eu tenho notícia no mundo da cultura ocorreu aqui, em minha casa.
Chegou a vitrola.
Eu acompanhava havia tempo a fartura de modelos que ressurgiram no mercado e alimentava o desejo de contar com uma. Não alimento mais. A vitrola voltou ao mundo dos vivos. A ressurreição dos discos de vinil aconteceu.
Como um ritual, me preparei para o grande dia.
Escolhi Sabor a Mi, a terceira faixa do lado B do disco As Grandes Canções, dos Los Panchos, de 93, para iniciar os trabalhos.
O chiado do beijo da agulha na superfície do vinil, tão próximo a mim e ao mesmo tempo tão distante, me transportou para outros mundos.
Não me fiz de rogado.
Bebi do uísque.
Fechei os olhos.
Me deixei levar.
Ilustração: Pixabay
Comentários
Entregou com sua crônica. Muitoo obrigada.
O chiadinho vai te pegar ainda, Jander, e você vai desejar ouvir The Cure e recordar 1992 rsrs
Também quero uma vitrola.