PRESSA >> Whisner Fraga

Ela prefere a fila, sem atalhos. Ainda está naquela idade que provoca dúvidas, não baste a pele que incita alguns anos a menos.

Como ninguém demora nos trâmites financeiros, ela se dá ao luxo. Alguns minutos e pronto, é a vez dela.

Deposita a mochila debaixo do caixa rápido e desanda a digitar qualquer coisa que sequer compreende plenamente.

Não tarda o diálogo com a máquina.

E dos meandros eletrônicos nada de resposta. Desconfiam.

A atendente, como se fosse com ela, desanda a acudir.

Cheque não. Só na outra ali.

A velha chispa, os dedos pressurosos.

A mochila resta para trás, estacionada, ela mesma um cliente. Ninguém avança e isso não é bom para a marcha da fila.

A velha foca nas folhas que a máquina regurgita.

A antendente resgata a mochila e a entrega à velha. Todos suspiram, o mundo pode prosseguir com a selvageria.

A velha conta meticulosamente as folhas. Mesmo que ninguém queira cheques, mesmo que alguns sequer saibam o que é cheque, o desejo é que o aparato fique logo desimpedido.

De repente, a pressa. A velha quer sair, rever o céu, que está pleno, azul. E sai.

Comentários

Unknown disse…
Tão natural, quanto apurado!
Zoraya Cesar disse…
"Todos suspiram, o mundo pode prosseguir com a selvageria." Quase singelo, Whisner, o seu relato. Amei essa frase. Deu pra acompanhar a cena toda. Muito bom!

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