CERTAS COISAS >> Sergio Geia
Mas, “tem certas coisas que eu sei dizer”, canto agora, mudando a letra. Aliás, digo sempre, mas as pessoas escutam?
Você, algumas vezes, numa tarde qualquer, não desejou bom-dia para alguém e foi corrigido? “Bom-dia, não! Boa-tarde!”? Mas o que eu desejo, sempre que falo bom-dia, e as pessoas não entendem, é que a pessoa tenha um ótimo dia; isso inclui manhã, tarde, noite. Eu não estou desejando que a pessoa tenha uma boa jornada apenas num período do dia, seria pobre demais. Estou desejando um bom dia, isso quer dizer, o dia inteiro, e não apenas o período da manhã. A gente corrige e fica aquela coisa de metideza no ar.
Já disse que aceito todo mundo que me solicita amizade no facebook. Aceito independentemente de conhecer — se bem que ultimamente ando entrando em cada furada... Sempre espero — ah, quanta pretensão — que quando uma pessoa me solicita amizade, tenha sido atraída pelas minhas crônicas, afinal, o que mais posto na minha página são crônicas. Então, tenho solicitações de diversas partes do Brasil e do mundo. De certos perfis eu desconfio. Por exemplo: a moça é uma gata, mora em Istambul, e só tem amigos homens. Outro: a pessoa que me solicita amizade não tem sequer uma postagem, só fotos do perfil. Normalmente, a mulher — e é sempre mulher — é linda. Outro dia um cara me solicitou amizade e aceitei. Depois me mandou uma mensagem assim: “Lindo. Gostoso. Curte homem?”. Respondi que não e assim ficamos.
Acho que pessoas, principalmente as públicas, deveriam aceitar qualquer solicitação de amizade. Eu mesmo peço amizade a quem admiro por alguma razão, seja no face ou no instagram. Muitas delas não aceitam (azedas). Acho isso de uma falta de consideração terrível. Você já parou pra pensar que quem solicita pode fazer parte de seu público? É seu fã, querida. Se a pessoa for uma roubada, bloqueia. Ou você pretende criar um perfil para postar coisas estritamente pessoais e não quer estranhos no ninho? Então sugiro que as reúna em casa, marque um jantar, mostre fotos, como foi a viagem, o namorado etc. e coisa e tal. Aff, isso me cansa. Criar uma página pessoal em rede social? Ah, me poupe.
Outro dia fui conhecer o Oficina. Depois de ter assistido ao “Rei da Vela”, mergulhei em “Roda Viva”, na releitura do Zé Celso, depois da primeira montagem de 1968, e aquelas loucuras de atores apanhando, presos, sequestrados, aquela coisa horrorosa que a gente não aceita mais. A peça é um musical que narra a história de Ben Silver, um cantor medíocre que, fabricado, se torna um artista famoso, sua ascensão e queda. Gente: que delícia! Esses atores do Oficina são viscerais, que energia, que vigor! Camila Mota é deslumbrante (virei seu fã; ah, e ela me aceitou no face). Roderick Himeros, Marcelo Drummond, Joana Medeiros — que tive o prazer de conhecer no Natal, na Brenda —, Guilherme Calzavara — sensacional como anjo, o coro que sintetiza o visceral que falei há pouco. O Oficina é uma experiência de outro mundo, que todos, todos que apreciam teatro deveriam vivenciar. Deixe de lado suas referências teatrais e venha experienciar o Oficina. Eu saí de lá entusiasmado, deslumbrado, hipnotizado. Quem sabe um dia eu não me apresente ao Zé Celso como um humilde voluntário; pode me colocar de porteiro, iluminador, bilheteiro, o que for, só quero estar lá, fazer parte, pertencer, compreende?
Ilustração: Teatro Oficina
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