O HOMEM COMUM >> Fred Fogaça
Madrugada pelas três só que do dia anterior, porque não dormira, sem pensar no turno que acabou, tanto menos no final da semana que começa, portando a indumentária pesada da lida, vestindo manchas de graxa pelo fim da gola dobrada, no antebraço longo, de veias saltitantes e pelos grossos que vão até a ponta da mão, intermediados apenas por um relógio largo e prateado, só no braço direito, que apoiado sobre a mesa de plastico manca, equilibra-a segura, e protege um copo americano de cerveja, que já meio quente, já meio sem gás, borbulha na mesma lentidão dos olhos semi-cerrados, da boca de grunhir sem dizer e de uma certa tranquilidade inconsciente de estar, por isso parado no tempo, senão pelos dedos que balbuciam em toques ritmados a música do rádio, salvo dois, que aproveita segurando um cigarro que mal se lembra de estar de aceso, não fosse pela fumaça fina que se espalha à vontade e já espanta os mosquitos, protegendo a garrafa, que apesar de vazia, não se anuncia à troca, talvez porque o garçom já tenha se cansado, talvez porque a multidão de presentes na dobra dos dias seja de poucos bêbados muito falantes, mas não se aborrece, sem cogitar pedir outra e nem olhar pros lados, não pensa em nada.
Mas de repente olha o relógio: toma num gole o resto da cerveja e se levanta, e vai embora.
Foto: próprio autor. Ribeirão Preto, 2016.
Comentários