MANIFESTO SEM ARGUMENTOS >> Fred Fogaça
adianta a nobreza da função, se tudo qu'eu sei permanece num'obscuridade impraticável o tempo todo? O tempo todo é até as beiradas do início, mas não melhora. No máximo, me distraio no processo; e acaba, bem logo depois de voltar, sexta às dez. Sei que mudam as pedagogias. Me afoguei no meandro de suas grandes incomodações, porque não me apego aos velhos rudimentos: sequer mereço os velhos rudimentos e falo com propriedade de quem não sente misericórdia de si mesmo, quero dizer, que se danem com tudo, que se danem com tudo que eu não dou a mínima: eu não sou uma enciclopédia. Pelo amor de seja que for, sou nada além de alguém sem artigo definido e olha,
olha que nem tenho identificação: nunca pisei nesse trono, nem assinei meu e-mail com títulos porque eu, meus amigos, não tenho nenhum. Eu não sou doutor ninguém e - sendo não muito hipócrita com as minhas necessidades - abomino cada metro adentro de certas academias. Cada cadeira de cada cátedra, como cada ego qu'eu não sei lidar com o tamanho mas veja: não desmereço esforços, seus estudos estão prontamente justificados mas eu - eu - não entrei nesse clima, minha assinatura é simples:
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Fred,
Era senão um amontoado de agoras sem procedência, a iminência de dizer que são teus olhos ou me bastaria com o seu aguardo.
e a cito como é, que ainda não devo temer. Sou só esse amontoado, e ponto, não os acúmulos, que o mundo é uma represa de represas e vou lá competir com quem?; e não é que me acomode na posição de intermediador que inclusive é o ponto de inflexão, o lugar menos comodo da curva. Se atravessa a encomenda, não se sabe - as vezes - o que de fato chega inteiro; nesses casos a ignorância é aliada, mas os rumores frustram. Mas conhecer o fato também não é alívio. Muda-se os meios, inquieta-se as formas, relativiza-se os conteúdos: é penúria de clareza e eu,
eu nunca pude afirmar; seja talvez essa a toada que se vai. Nada pode ser permanente: convicções cruas tem tomado o poder e não são espertas. A sagacidade - sempre e só talvez, um permanente - é a alternância da apreensão e, por incriminado que for, não tomarei forma de nenhuma entidade, não alcançarei plenitude e, em ode à mediação, permanecerei em eterno processo de vir a ser, pra tornar a ser o outrem.
Foto: Mostar, 2015 - Fred Fogaça.
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