O BRABO >> SORAYA JORDÃO
Viver é uma ação delicada, complexa, árdua e, por vezes, confusa e intrincada. Não bastasse a necessidade de organização, planejamento, controle das emoções, motivação contínua para conquistas e superações e clareza de propósito, cobradas de todo vivente que precisa pagar a conta afetiva de ser bem-sucedido, esbarramos, na contramão, com o destino, garoto mimado e emocionalmente instável, que vez por outra cisma de fazer pirraça no meio da praça.
Quem nunca viu o destino se jogar no chão, espernear e se recusar a cumprir o que lhe pedimos?
Sem aviso, o marrento larga a nossa mão e sai correndo pelas vielas do azar, atravessa a avenida movimentada do acaso, sem se importar com o sinal vermelho. Enquanto isso, nós, cuidadores do menino temperamental, ficamos ali, estarrecidos, insones, presos num pêndulo que desliza entre a alegria e a decepção.
Quem já sentiu a corrente do medo viajar pelo corpo antes de descobrir se o destino acordou sorridente ou vingativo naquele dia tão esperado?
Nas últimas férias, em janeiro, passei por isso. Ele estava raivoso, intolerante, teimoso, pirracento. Quanto mais eu tentava agradá-lo, convencê-lo da nossa amizade e parceria, mais ele aprontava, montava arapucas.
Só quando aceitei a minha impotência para dominá-lo e decidi entubar sem questionar sua má vontade comigo é que o danado me sorriu.
Disso, tirei uma aprendizagem: se ele faz birra, implica ou me sacaneia, eu foco em outra coisa, finjo que não ligo, deixo ele de lado, e o indigesto logo corre atrás.
Existem ruas que se desenham a partir de caminhos que se fecham.
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