PIPOCA >> Sergio Geia

 


Vejo o carrinho de pipocas na praça alegre. Vejo estudantes a caminho da aula, crianças ao lado de pais, trabalhadores saindo do trabalho, todos em fila. 
 
Não só vejo. Além da visão, o cheiro. Especialmente do parmesão. 
 
Lembro-me dos tempos de faculdade, um pau-de-virar-tripa o pobre Geia. Mas ser magro naquele tempo tinha lá suas recompensas, e comprar pipoca no carrinho da faculdade, ou beber no bar, ou comer um sanduba era quase uma obrigação diária. 
 
A fila é uma minhoca gigante. Coloco as mãos no bolso. Confirmo a presença da cédula. Na minha vez, digo: 
 
— Uma pequena, por favor. De R$ 5,00. 
 
A pobre mulher fica triste ao ver a nota de R$ 20,00 em minhas mãos. 
 
— Não tenho troco. Aceito cartão e PIX. 
 
Eu respondo: 
 
— Não trouxe cartão. Nem celular. Somente esta nota mesmo. É que eu vim caminhar. 
 
A cara dela não é boa. 
 
— Não tem problema. Outro dia o senhor paga. 
 
Eu me espanto. Quem vê cara não vê coração. Não a conheço, nem ela a mim. 
 
— Amanhã então eu volto e acerto. 
 
Ela nem me escuta, já atende outro, a fila é grande. 
 
Vou-me embora carregando uma alegria boba. 
 
 
P.S.: Ilustração: Pixabay

Comentários

Jander Minesso disse…
Que belo retrato do cotidiano, Sergio! Tanta coisa dita (e não dita) numa cena tão singela.
André Ferrer disse…
Ainda existe carrinho de pipoca? Moro no interior e não vejo mais isso. Aqueles de shopping não vale. Vai.
Darci Siqueira disse…
Bela crônica meu amigo, era magro mesmo,com vantagens, como fazer uma vitamina batizada
de "Leitão" até hoje uso a receita, meus filhos adoram; conto que tomava em dua casa! Lembra? Pois é! Quanto as pipocas; bons tempos, grande abraço.
sergio geia disse…
Fala Jander. Esse cotidiano simples é tão rico.

Existe, André. Diminuiu, mas ainda existe. O carrinho citado na crônica fica na praça Santa Teresinha, em Taubaté. Lá tem vários, principalmente nos finais de semana, em horário de missa.

Bela lembrança, Darci. O "leitão", ou "barrão", era mesmo bom. Por razões óbvias, pareei de tomar kkkkkk.

Silvia Helena disse…
A simplicidade de sua crônica, torna-a um belo retrato do cotidiano!Uma leitura muito agradável!
Soraya Jordão disse…
senti cheiro e gosto de pipoca.
sergio geia disse…
Obrigado, Silvia, esse retrato do cotidiano é o que mais gosto de fazer.

E é tão bom, Soraya.

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