ESTAMOS EM GUERRA >> whisner fraga
a menina em férias, a amiga, um puxadinho na casa, ninguém sabe o nome deste cômodo, mas é como se fosse um terraço com vista para a calçada e para o telhado vizinho,
estão lá, ambas, e as criancices,
e as gargalhadas que preocupam os adultos, até me elegerem para averiguar,
eu me embrenho pelas escadas escuras até encontrar as duas e o silêncio e a seriedade: parecem senhoras tomando o chá da tarde em alguma academia de letras,
sopro um oi sorrateiro, está tudo conforme,
bruscamente, a campainha, todos veem o vizinho açougueiro, pela televisão irradiando imagens das câmeras de segurança,
(há muitos assaltos no interior)
gesticula, fala com algum aparelho imaginário, não deve ser conhecedor de tecnologias,
a avô corre para a porta de entrada,
seguimos para lá, também, não com a velocidade do dono da casa, mas igualmente afoitos,
os significados não acompanham os sons nem a indignação do comerciante, mas consigo distinguir os termos polícia, irresponsabilidade, limão, cabeça e o mais era montar este quebra-cabeças de poucas peças,
elas estavam, é claro, alvejando clientes da casa de carnes, com diversos tipos de frutos apanhados no pomar,
elas se assustam, podiam ir presas?, há gente mal-humorada assim no mundo?, estávamos só brincando, outras perguntas, justificativas, assombros,
tudo isto numa reunião emergencial,
alguns conselhos, repreensões, o de praxe da dramaturgia familiar,
voltei com elas, paramos no corredor e aconselhei que esperassem um dez minutos para retomarem a brincadeira.
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imagem: dall-e.
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