OUTRA OPÇÃO >> André Ferrer

Muitos vasos de flores delimitavam a área das mesas e criavam uma atmosfera aconchegante na opinião de Ana, a mulher que estava naquele espaço externo do café. Ana sentia incômodo imersa no movimento e na conversa das pessoas. Havia famílias e casais ao redor. Então, ela espiava a rua movimentada por entre os corpos, as flores e os galhos.

Enquanto esperava, Ana brincava nervosamente, sobre a mesa, com uma colher, que enfiava e tirava da asa de uma xícara capotada. Depois, ela ergueu a cabeça e tentou disfarçar a impaciência. O tempo passava devagar demais e a incerteza tornava a espera ainda mais angustiante.

Finalmente, o garçom chegou com o café e os brioches, que Ana havia pedido.

— Aqui está — disse ele. — Mais uma vez, peço desculpas por não podermos cumprir o seu pedido. A sua primeira opção.

— Entendo que essas coisas aconteçam. Não se preocupe. Estou ansiosa para experimentar a alternativa. Parece deliciosa.

IMAGEM: Px Here

— Fico feliz que compreenda. Espero que goste dos brioches com geléia. Se precisar de algo, estou à disposição.

— Obrigada.

Ele fez uma reverência e entrou no café.

Enquanto Ana e o garçom conversavam, as pessoas voltavam-se para lá. Incomodada, Ana abaixou a cabeça, adoçou a bebida e sentiu o aroma dos brioches. Então, bebeu café e, por alguns instantes, a dúvida diminuiu no seu espírito. Um átimo somente. Seus olhos, na verdade, continuavam voltados para a rua. Procuravam pela verdadeira resposta.

De repente, um homem de cabelos pretos apareceu ao longe, mas as plantas no caminho impediram que Ana visse claramente. Seu coração disparou por um momento, mas logo ela percebeu o equívoco.

Desanimada, Ana abaixou a cabeça e tratou de terminar o seu café com brioches. Enquanto ela mastigava, um ônibus freou na esquina. Um engarrafamento nasceu. Os carros, agora, também bloqueavam a vista da rua.

Comentários

Jander Minesso disse…
A arte de dizer muito sem dizer. Muito legal essa construção, André!
Albir disse…
Muito bem construída a cena. Ela se basta.
Zoraya Cesar disse…
André, que maravilha! Uma narrativa belamente construída que dá ao leitor tantas leituras quanto as que ele queira. E extremamente cinematográfica.

Agora, o que é uma xícara capotada?

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