O QUINQUÊNIO >> Albir José Inácio da Silva

 

Neste 25 de dezembro a situação está bem melhor que nos últimos cinco anos. O que não significa que podemos esquecer o passado. Pairam ainda nuvens ameaçadoras, e é importante lembrar do que passamos para que nunca mais se repita.

 

O Natal de 2019 impôs uma ceia minguada ou a falta dela para os mais humildes, prenunciando as filas por ossos descartados pelos produtores e comerciantes. Muitos seriam alcançados pela fome nos próximos anos, enquanto palavras e gestos de desprezo e ataque às instituições assombravam os brasileiros.

 

Numa data de luz para os cristãos, mergulhávamos nas trevas rumo aos 33 milhões de famintos.

 

Nas tragédias, uma desgraça só é bobagem, e no Natal de 2020 estávamos ocupados na macabra contagem de mortos pela Covid-19. As sonhadas vacinas eram recusadas, ridicularizadas, desacreditadas. A morte estava em cada esquina, mas queriam impedir o isolamento para manter a produção e os lucros nas empresas e nos templos.

 

No 25 de dezembro de 2021, as instituições tinham vencido a tirania quanto às vacinas e a pandemia estava controlada. Permanecia o esgotamento físico e psicológico.  Quase todas as famílias tinham sido visitadas pela morte solitária e sem despedidas nos CTIs.  A saúde mental se debatia tentando respirar alguma lucidez e compreensão. A isso somava-se o desemprego e as permanentes ameaças à democracia e à civilidade.

 

Em 2022 as eleições mostraram o caminho da mudança, mas as tentativas de desestabilização continuavam. O trabalho bem feito no gabinete do ódio, nas redes e nos púlpitos resultava na intolerância e no fundamentalismo que pregava guerra contra inimigos imaginários.  Na noite de natal, um atentado terrorista quase explodiu o aeroporto de Brasília.

  

Pensamos que tinham ultrapassado já todos os limites, mas, quinze dias depois, nova intentona fascista destruiu a sede dos três poderes na Capital da República.

 

Sim, neste 25 de dezembro 2023 temos o que comemorar. A vacina afastou as mortes e os quadros graves de Covid. Os programas de imunização foram retomados e aos poucos as pessoas voltam a acreditar na prevenção. A fome dá sinais de recuo, cai o desemprego e sobem as taxas de crescimento. O país respira alguma tranquilidade democrática, apesar das ameaças que se repetem para confirmar a máxima de Brecht, “A cadela do fascismo está sempre no cio.”

 

Sobrevivemos aos ataques de 8 de janeiro e colocamos na cadeia algumas “buchas” manipuladas. Precisamos punir os responsáveis, manipuladores, financiadores e idealizadores para que se restaure a ordem, a civilidade e a dignidade do país.

 

Que Jesus, Moisés, Maomé, Oxalá, Krishna, Mitra, Buda, o universo, a boa-vontade, ou quem quer que mereça a sua fé, nos conduzam na direção do amor ao próximo e da dignidade humana!

 

Feliz Natal e um 2024 sem sobressaltos!

Comentários

Sandra Modesto disse…
Que texto! Maravilhoso, Albir.
Jander Minesso disse…
Ah, Albir: tenho visto um punhado de lugares onde essa cadela tá prontinha pra cruzar…
Anônimo disse…
O negacionismo é um tipo de expressão da ignorância. Infelizmente, vivemos um tempo em que os canais de expressão estão ao alcance de qualquer um. Aquele efeito colateral da democracia (voz e falsificação da voz) cujo corretivo é sempre controverso: a regulação. Precisamos refletir sobre isso como nação. André Ferrer aqui.

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