CARTÃO >> Sergio Geia
A crônica de hoje é um desejo de Feliz Natal e de um 2024 melhor que 2023 pra você. Sabe quando mandamos aos nossos contatos do celular aquelas figurinhas? — alguns ainda preferem escrever. Pois é. Esta crônica é isso. Sem figurinhas. Com texto. Espero que não tenha preguiça de ler.
E como um simples desejo de boas festas com o envio de uma figurinha para o contato do celular, a crônica hoje é vazia de história. É uma crônica sem história. Crônica-cartão. Cartão de Natal. De Noel. É uma crônica que quer dizer pra você: Feliz Natal, e um 2024 melhor que 2023.
Foi um ano pesado. Como todos os anos, muita gente morreu. Mas em 2023, a minha mãe morreu, em março, mês em que nasci. A Lucia, vizinha aqui, morreu. A Rita. A avó da Cristine morreu. O Dinamite. Zé Celso. O pai da Mara. Donato. O Marmo. Mãe Bernadete. A Glória. Chega, né? Um ponto final aqui cai bem. Pelo menos no texto. Na vida foram vírgulas. Muitas. Mas também foi um ano bom. Sim, o ano, como a vida, cheio de contradições. Estou aqui. João arrumou emprego. Chiara desnuda o Bixiga pro TCC, pra mim, pra você, pro mundo. Lancei livro, contos que mexem comigo. Bebi. Dancei. Amei. No balanço da vida, meio a meio, vai.
Mas como sou um contador de histórias, eu queria mesmo era contar umazinha, de preferência uma história de Natal, ainda que curtinha, para você ler, fechar os olhos, e algo bom acontecer lá dentro. Mas estou tão vazio de histórias...
Não quero escrever com a tristeza do Conto de Natal, do Braga; quero a esperança. Ela mesma, talvez a dos anjos do Caio, como em Se um brasileiro num dia de dezembro..., ou em As nuvens, como já dizia Baudelaire... Ou o sorriso daquele pai pobre comemorando o aniversário da filha num botequim, o simplório pedaço de bolo coberto por três velinhas — pedaço mesmo, vindo direto do balcão do boteco para a mesa, tão bem retratado por Fernando Sabino em A última crônica.
Por isso, talvez só por isso, não tenha histórias para contar. Com um balanço meio a meio, ainda que queira, não consigo fugir das tristezas dos 50%.
Mas Zé Celso não morreu. Está vivo pelos cantos do Oficina. A Rita não morreu, vive a cada vez que ouço Caso Sério e me arrepio. Até minha mãe vive, sempre que viro a página de A mais linda do Baile, do Vocabulário. E a avó da Cristine? Eu me lembro de seu riso no canto da boca, as palavras doces, tá bonitão, hein? São os outros 50% falando.
A vida grita nos cantos, Caio, eu sei, mas às vezes é tão difícil.
A crônica de hoje era para ser apenas um cartão, sem histórias, cartão de Noel. Me arredei por outros caminhos. Sorry.
Mas ainda há tempo de consertar.
Boas festas, baby, e um 2024 melhor que 2023.
Toquem os sinos.
É quase Natal.
P.S.: 1. Nas próximas duas quinzenas a crônica não será inédita e integrará o Projeto CRÔNICA DE UM ONTEM; volto com as inéditas em 27/01/2024. 2. Ilustração: Pixabay.
Comentários
Um 2024 florido de alegrias.
Jander e Ana, que palavras doces, que gostosura ler. Gosto de fazer esse balanço no fim do ano. Acho que me ajuda um pouco. Bom saber, Jander, do Crônica em sua vida, e da minha escrita. Ano que vem deve pintar a antologia e certamente iremos nos encontrar em Sampa. Vai ser bom.
Era o que eu precisava ler sobre como eu próprio me sinto em relação a este ano.
Feliz Natal e que em 2024 o saldo seja melhor que 50%.
Abraço!
Bom ano para você, Albir!