O PREÇO DA QUALIDADE, SEGUNDO OS GENEROSOS > whisner fraga

 


a qualidade nunca é cara, ele ridicularizou,

pessoas com poder têm esse vício de achincalhar até o imponderável,

você degustaria um maná de quase um milhão de reais?,

pois alguém sim, 

em um mundo de famintos,

isso nem é um retrato da injustiça, isso é escárnio mesmo,

fiz uma brincadeira: quantas refeições na padaria da esquina este valor garantiria?, quantos marmitex do mineiro?, quantos quilos de arroz, quantas laranjas, quantas coxinhas, quantos pastéis?,

esses pensamentos desgraciosos,

depois, tristes, ironizamos o jantar: dois bifes de dragão cobertos de nióbio de marte, porções de carpaccio de escargot pré-histórico revivido por meio do dna de carapaças fossilizadas, uma salada de alface cultivada e colhida durante o sol da meia-noite do dia trinta de fevereiro de um ano duplamente bissexto, com molho de coentro cultivado na estação espacial salyut 1, conservada em ambiente criogênico até o dia do consumo, uma sobrecoxa de pombo-faisão-da-nuca-preta à moda do chef, duas garrafas de cabernet connard 1872, duas garrafas de absinto μαμά, do século xv... (continue o cardápio), 

uma ceia de 138 mil libras esterlinas, 167 mil dólares, 10 milhões de rublos, 14 milhões de rúpias, 27 milhões de pesos argentinos, 243 milhões de dinares iraquianos,

tanta desigualdade em tão pouco mundo.


Comentários

Carla Dias disse…
Pois é, Whisner, a desigualdade abismal nasce da necessidade da exclusividade, do desejo pelo "melhor dos melhores". Todos sentem fome, mas alguns além; a fome se torna outra.

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