ESPAÇOS >> Carla Dias
Quando menina de tudo, jurei que não cometeria ruindades. Nada de esmagar formigas com o pé, puxar cabelo das colegas, dizer palavrão durante o jantar. Jurei que seria melhor do que as pessoas que me esmagavam com sua habilidade de apequenar o outro, as que puxavam os meus cabelos e não me chamavam pelo nome, mas por um palavrão por vez.
Alocou-me em espaços que jamais considerei compartilhar. Transitórios, ociosos, vazios. Morei ali por uma parcela da eternidade que nunca desejei. Houve quando foram preenchidos com o inesperado de arrebentar silêncios ao soltarem a voz da necessidade.
A minha necessidade estava nos pés de não pisar em formigas. Precisava da dança de espantar medos. Estava no dorso curvo da infelicidade sendo varrido pelos cabelos das oportunidades. Vibrava nas palavras gestadas no colo do apreço.
Quando meus espaços se tornaram meus, passei a receber convidados e a aprender com eles. Sigo cometendo erros e injustiças, e as reconhecendo nas consequências. Aprendi que gritar palavrão, na sala vazia, ajuda a mandar agonia embora. Há dias em que esqueço meu nome e me demoro a reavê-lo.
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