EU VOU, TEIMOSO >> whisner fraga
exausto, moído.
sabíamos do terceiro, quarto, quinto e, neste momento, sexto turnos: mais curtos, é verdade, mas igualmente desgastantes, e não é sobre política, pelo menos a dita partidária, mas sobre pensamentos, nem há necessidade de ir adiante neste tópico, já desgastado (embora ainda incompreendido),
em algum momento, desisti de tocar no assunto com certas pessoas, o abismo era profundo e o tempo precioso: acabei bloqueando, ignorando, apagando mesmo, foi a trilha da mínima sanidade,
às vezes desabafando,
era domingo à noite e não comemorei, anestesiado, ensaiei uma foto, um sorriso encabulado, desconfiado de que as coisas não podem acabar bem assim, tão rápido: resquícios da arenga católica de outras eras, quem sabe,
enquanto escrevo, gal morre, boldrin morre e o menino ney tem cara de bebê, são os tempos,
foi uma breve letargia, uma efêmera hibernação, até o show do milton, era quinta-feira,
milton velhinho, sentado, um manto debaixo da sanfona, as luzes simulando um anjo, o que ele é, realmente, e a comemoração começou ali, cinco dias depois: primeiro com zé ibarra, um artista assombroso, ele provocou e o coro veio; olê olê olê olá, o resto vocês conhecem, a alma à beira do tanque, esperando o asseio,
aí alguém gritou lá do fundo (ou da frente) o inominável e eu fiquei pensando o que leva um sujeito a estar tão deslocado assim, num show do milton nascimento, dá-lhe vaias, dá-lhe lula ladrão você roubou meu coração, e aí eu fui me agitando, era a hora da celebração,
milton velhinho, colossal, contou da alegria - gente, uma semana antes era proibido falar de felicidade, - da esperança com que se renovava, foi a apoteose, ninguém queria parar de cantar, de rir, de chorar e outras coisas que capturávamos com a vista embaçada, voz torta,
o cansaço, depois, me abandonou, um pouco, às vezes ele me revisita, danei de me apegar à insônia, os pesadelos duvidam da esperança, espezinham, mas eu vou, teimoso.
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imagem pixabay.
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