NOITES DE PRIMAVERA >> Sergio Geia

 


Havia uma brisa de verão na noite primaveril.

Era morna, acarinhava a pele do rosto com suavidade, até sentei. Pensei, deixa acarinhar, deixa. 

Esquecido do jantar no fogão, lembrei-me de algumas noites primaveris, o moço ingênuo a tocar violão na varanda, as moças passando e rindo, deixando um perfume no ar, me deu saudades.

Voltei ao fogão para terminar o jantar. Jantei. Depois, faminto de tão boas recordações, do ventinho morno a tocar a pele, quis um pouco mais. 

Não encontrei. 

O que encontrei foi vento arredio, frio de quase gelar, a impressão de que faria chuva. 

Fechei a porta. 

As lembranças foram todas, não as achei mais. 

É primavera. 

Desabotoa o verão, sem se esquecer do inverno que já passou. 


P.S.: Das miúdas, com certo frescor de poesia. Eu adoro. Você não?

Comentários

Darci Siqueira disse…
Parabéns Geia sempre viajamos em suas crônicas. Sensacional!
branco disse…
boa serginho! econômica e certeira. O bittersweet que tanto uso e gosto na exata dimensão.
sergio geia disse…
Grato, meus queridos Darci e Wilson pela leitura e comentários; lisonjeado.
Zoraya Cesar disse…
Bittersweet, como diz lord white, e na medida certa da perfeição. E ainda nos dá uma lição de brinde: quando a brisa soprar, esquece o jantar, esquece tudo; quando a brisa soprar em nossos rostos, deixemo-nos ficar, pq o instante é breve.
Anônimo disse…
“Frescor de poesia” — como não amar?
sergio geia disse…
Grato Zoraya e amigo anônimo. Sabem que não me canso de me entregar à releitura dessa "Noite de primavera"? Me faz tão bem.

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