MOÏSE KABAGAMBE, PRESENTE! >> whisner fraga
Um brasileiro cordial gritou "a gente tem que dar um corretivo". Um brasileiro cordial chutou um congolês por duzentos reais. Um brasileiro cordial amarrou as mãos, os pés de um negro. Um brasileiro cordial encontrou um taco de beisebol e o resto você deve ter visto no vídeo, que viralizou nas redes. Um brasileiro cordial incomoda muita gente, dois brasileiros cordiais incomodam incomodam muito mais, três brasileiros cordiais incomodam incomodam incomodam muita gente. Um brasileiro cordial se aproximou, como quem não quer nada e também agrediu o homem. Quem estava ali pelo estrangeiro? Quem estava ali pelo negro? Quem estava ali pelo pobre? Quais os direitos de alguém que leva uma pancada na nuca? Na cabeça? O congolês tinha uma família, amigos, um registro de nascimento, um nome, uma vida, mas nada disso adiantou. Ele estava só, com a indignação e a injustiça. E morreu só. Nem os avisos de cenas fortes, antes de começar a selvageria, me impediram a náusea. Um brasileiro cordial tentou reanimar o homem, com medo das consequências, mas a violência já havia feito o trabalho. Ninguém queria matar, justificaram. Ninguém nunca quer matar. Até que vai lá e mata por duzentos reais. Mas nunca é somente por duzentos reais.
Comentários
A palavra hediondo está sendo insuficiente.
Muito sensível a crônica. Parabéns.