QUEM TEM MEDO DE MANDINGA NÃO CARREGA PATUÁ >>> Nádia Coldebella

 


Era um homem de quarenta anos que procurava namorada, mas de preferência uma namorada que gostasse de homem e não de mulher como a Adalgisa, que por sete anos dizia-se apaixonada e excelente dona de casa  e cozinhava bem pra caramba - e todas as vezes que o Toninho passava lá em casa dizia que ele era muito bem servido de cozinheira e de mulher. Ele ficava enciumado, mas não por causa do Toninho.


É que Adalgisa passava as tardes na cama com a Ritinha.


Quando ele soube, tentou mandinga, patuá, oração, benzimento, simpatia, banho de sal grosso, amarrou boca de sapo na sexta-feira e procurou a mulher do tarô que deixou a propaganda na caixa do correio. Nada deu certo. Então ele tentou o contrário. Deixou o gato preto da vizinha cruzar seu caminho, passou por baixo da escada, quebrou um espelho, derrubou um saleiro, deixou a tia Vera varrer seus pés, tirou a vassoura de trás da porta e abriu o guarda-chuva dentro de casa. E nada.


Nem sinal da Adalgisa que fugiu levando a Ritinha. 


Ela levou também a estátua do Buda que ele havia ganhado da tia e nesse mesmo dia ele tinha chutado sem querer a macumba que alguém tinha feito no cruzamento da sua rua. Isso só podia ser um sinal de que não adiantava fazer nada, porque a Adalgisa não iria voltar. 


Mas quer saber? A Adalgisa era uma ignorante, que falava “menas vezes”, que tinha operado da “penicite”, que adorava coisa “di grátis”, que queria “si casar” mas tinha medo de não ter filho porque tinha “pobrema no úter” e ele não sabia como tinha aguentado tanto tempo com ela. Se bem que gostava muito daquelas ancas que quando não estavam com dor de cabeça diziam um “benhê” muito devasso. Agora ele queria namorar uma moça religiosa com ensino médio completo porque estava cansado de passar vergonha em público.


Ele agora preferia uma moça de  25 a 39 anos, com peito firme, barriga lisa e bunda no lugar, porque a Adalgisa era uma velha, com aquela cara de maracujá, traseiro gordo e peito e barriga indicando a direção do inferno que ele conheceu bem nos sete anos que viveu com ela. Se bem que a Adalgisa não era grosseira e falava pouco porque não gostava de mostrar os dentes e era tudo muito tranquilo porque ele podia beber cerveja a vontade e ela não reclamava quando ele assistia o curintias.


Ela ia para a cozinha e ficava no telefone com a Ritinha. 


Pensando bem ele não entendia o que tinha visto na Adalgisa, que tinha dois olhos da mesma cor que olhavam para lados diferentes, um cuidando do peixe e outro do gato, que não tinha os trinta e dois dentes e ele a noite costumava apagar a luz mais cedo, só pra não ver os dentes repousando no copo. Mas isso nunca impediu Adalgiza para nada e ela dizia de um jeito engraçado quando estava sem os dentes que ele tinha um grande patuá e ele se considerava um homem de sorte sem nunca imaginar que a Ritinha era a mandinga que tinha vindo pra lhe dar sete anos de azar. A próxima namorada tinha que olhar na mesma direção que ele e ter todos os dentes grudados na gengiva, se bem que não seria o mesmo que sentir Adalgiza, mas era como diziam, quem tem medo de mandinga não carrega patuá.


Comentários

Zoraya Cesar disse…
" barriga indicando a direção do inferno que ele conheceu bem" HAHAAHAHAHAHA, Countess, vc anda mto engraçada. Esse bom humor todo tem a ver com algum cadáver recente na mala? Coitado do cara. Tenho certeza q no fundo ele gostava da Adalgisa sim, tanto q fez mandinga pra ela voltar. Que homem nao iria querer uma mulher que fala 'benhê' de forma devassa, tem ancas escaláveis e confortáveis e ainda cozinha bem? O resto é apagar a luz, afinal, ela o deixava em paz. Seja feliz Adalgisa kkkkk
Mauro Fregolon disse…
Boa sorte guerreiro
Tenta não olhar pra elas pra despertar o instinto de competição, kkkk
Se queres uma moça religiosa, comece a frequentar uma igreja.
Lembre-se que o resultado de uma boa sexual é um bebê. Sucesso!
Jander Minesso disse…
“(…) procurou a mulher do tarô que deixou a propaganda na caixa do correio.” A questão: pagava antecipado ou só depois de recuperar o mozão? Ou essa não trazia o mozão de volta? Porque a galera mais moderna não promete mais isso, mesmo; eles só dão um panorama geral da coisa e você que se vire. E isso de ter que resolver os próprios problemas é um troço complicado. Enfim: muitos devaneios aqui. Amei o texto! E que sejam felizes.
Carla Dias disse…
Nádia, adorei o faz e desfaz reza, mandinga e o diabo. E a ideia do currículo amoroso/companheiro perfeito sendo superado por tudo o que o personagem ama odiar. Muito legal.

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