DIAGNÓSTICO DE UM SORRISO >> Carla Dias
O resto é o que evita para não ter trabalho. O terapeuta sugeriu que ele sente preguiça de ser, com o que concordou, em silêncio, sem dar crédito à descoberta ou trela ao descobridor.
O resto sempre vem acompanhado de um plano, que, não raro, é daqueles que o sujeito não tem capacidade sequer de arquitetar, de manter firme, imagine colocar em prática. Ainda assim, causa-lhe certo conforto acreditar que tem um, somente dele, cabível à sua realidade, apesar das nuances das suas emoções.
Emoções são atrapalhadoras naturais de qualquer plano, até porque não é usual que chegue somente uma. Elas andam em bando, são barulhentas. As que mais complicam a situação do plano e, por consequência, de todo o resto, são aquelas com considerável grau de verdade. Ele tenta desacreditá-las, mas quase nunca funciona. Verdade, quando se revela, gosta de mostrar aos que mentem para si o seu poder de prevalecer.
Em noites de emoções descontroladas, ele se pega tentando dormir, o que geralmente acontece meia hora antes de amanhecer.
Há dias em que o sorriso parece ter sido colado em seus lábios. Não lhe pertence, apesar de ele ter dúvidas se saberia reconhecê-lo se fosse o seu, nascido de algum aprazimento. E se não conseguir desfazê-lo mais? Se o dito permanecer como uma cicatriz destoando da linguagem do olhar, em dias de penúria, fazendo dele uma marionete da ironia?
Ironia é sobrenome da sua dor. Não há dor mais profunda do que a omitida.
Imagem © Paul Klee
Comentários
Mas te explico. Não se trata do entendimento racional, esse eu contemplo. Falo daquele outro, o do coração, porque seu texto não dialoga com a razão, ele dialoga com um nível mais interno. Sabe quando vc vê uma pintura que te provoca? Um som que te arrepia? Uma cena que te desconcertada? Mais ou menos isso que acontece quando vc traz esse tipo de texto.
Angústia é sorriso pairando nos lábios, preguiça de ser, ironia é sobrenome da dor... Essas e outras pérolas textuais vc parece coletar nas profundezas de um mar infinito. Elas formam imagens mentais que brincam com a mente num nível simbólico. Aquele em que não se fala de compreensão de sentido, mas de apreensão. Quer dizer, o sentido gruda em vc, vc o captura, o abraça, mesmo não sabendo direito, racionalmente, o que tem nos braços.
Por isso perturba, por isso incomoda, por isso é tãããoo legal! Por isso é textoterapia.
Gde bjo!