ENTRE O MAR E O AMAR>> Cristiana Moura
Suportar a ausência do dia-a-dia tal como o conhecia — nostalgia ou luto? Não importa. Um novo cotidiano sendo inventado e transformado a cada instante. Perdi meus sonhos quando o tempo pandêmico parou o tempo Kairós em mim. Eu quero... eu quero... já não sei. Esqueci-me dos meus sonhos procurando nomes das pessoas queridas em listas de vacinação. Enquanto isso a madrugada é invadida por pesadelos de fugas cinematográficas roubando o descanso do que era, simplesmente, dormir. Hoje, sou uma desconhecida de mim. Adormeço sob um leve e diáfano tecido.
Inventamos um feriadão em meio à distopia cotidiana. Duas mulheres banhando-se no mar, Sol a pino, ondas a derrubar nossos corpos a dançar com a branca espuma em movimento. Menage à trois: ela, eu, o mar.
— Quero ficar mais.
— Quero sair.
— Vamos ficar.
— Temos que ir.
O banho acaba antes do gozo. O cotidiano está a chamar. O mar que nos espere para outra orgia — aquoso movimento. Amar é tomar banho de sol, de mar, gostar do beijo salgado e suportar as diferenças até que o verbo suportar vá virando malemolência à medida que deixamos pegadas na areia quente.
Que o que é diáfano mantenha-se, cada vez mais, transparente! Adormeço ao lado dela.
Comentários
É muito bacana como vc consegue, em poucas e líricas linhas, trazer pra gente a extensão da ruptura e um começo de ressignificado!
Gde beijo!!