NÃO ALI >> Carla Dias
O desdobrar a toalha no corpo da mesa. Sobre ela, colocar os pratos, dispor os talheres, enfileirar os copos. Fechar as janelas para deter a chuva que chega ruidosa. Dentro das panelas, sambam sabores a serem conhecidos em um daqui a pouco cronometrado em um celular que também ordena que canções sejam tocadas na sala de estar.
Gatos se esgueiram pelos cômodos: nomes próprios, afeto garantido, todos os cuidados em dia. Refrescam-se ao desfilarem diante de um ventilador que promete e entrega alívio.
Há dias em que tudo o que se deseja é alívio. Há quando ele chega.
A música é gosto compartilhado, mas não há som mais agradável de se escutar do que o de gargalhadas soltas. Sentir saudade delas é tristeza que embrutece o espírito. Matar saudade delas é domingo no parque em plena terça-feira de apartamento.
As conversas visitam o passado, mergulham no presente e se entregam ao futuro. O tilintar de copos são promessas de que a vida será vivida, custe a vida – e o desejo em vivê-la − que custar.
Há uma guerra acontecendo. Há muitas batalhas se desdobrando nas esquinas de tantos lugares.
Comentários
Querida Carla, tudo o que é necessário para que essa nossa vida estranha faça algum sentido você colocou ai, nessas poucas palavras.
Quem dera tivéssemos a coragem de existir apesar do tempo!!!
Grande abraço!