PONTO DE PARTIDA >> Sandra Modesto

No ponto do ônibus em que Carolina esperava sempre pra ir pra casa, depois de um longo dia de trabalho, aglomerados sonhos densos e mesmo assim, no corre da vida, ela estava ali doída de saudades diárias. 

 

Igual a tanta gente, tantos caminhos, tantos desejos a percorrer nessa busca rebuscando os traços de tantas feridas. 

 

O que Carolina podia? Chegar e receber os carinhos do filho miúdo e do marido que tinha feito o jantar. 

 

Quereres despido das emoções presas. 

 

Marcos, o marido, não via a hora de Carolina chegar. 

 

Quando ela apontava na esquina abaixo, ele já sentia o cheiro de jasmim. 

 

A pressa daquela noite estava diferente. O outono estava com temperaturas de verão. 

 

Carolina, quase chegando. 

 

Já passavam das onze horas, Marcos não sentiu o cheiro de Carolina. 

 

Alguém bate à porta. Marcos coloca a comida pra esquentar às pressas. 

 

Abre o coração pra receber Carolina. Mas, ela não veio. 

 

Era alguém, Marcos não conhecia. Apenas ouviu algumas palavras que jamais esqueceria.

 

— Senhor Marcos Santos? Só falta um corpo pra ser reconhecido. Queira me acompanhar. 

 

Tudo rodopiou ao derredor. 

 

O amanhecer no IML. Os cheiros de mortes no ar. 

 

Um menino de quatro anos acordou estabanado pela casa perguntando pela mãe. 

 

A partida tem sempre um ponto.

 


Comentários

Laercio disse…
Toma crônica. Parabéns!!
Laercio disse…
Ótima crônica. Parabéns!!
Albir disse…
Doloroso e inconsolável o amor que temos visto em pedaços à nossa volta com frequência. É como um gemido.
Paulo Barguil disse…
Emoções presas...
Somos presas delas...

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