A GENTE VAI LEVANDO >> Sandra Modesto
Não adianta “tapar o sol com a peneira”.
Porque a garganta dói na alma.
O grito escapole ao amanhecer.
Parece uma canção desvairada.
Dilacerada e plena na madrugada tentando se equilibrar em um pole dance.
E nem pole dance eu nada sei.
Escuto alguns passos fazendo zigue-zague nos meus sonhos.
Acordo sem saber o que sonhei.
Algumas notícias me chegam.
Que estranho! Percebo a frase mais digitada nessa louca pandemia: “meus sentimentos”. “Meus parabéns?" Raramente.
Em oito Estados brasileiros o número de registros de óbitos é maior do que o de nascimentos. Minas Gerais é um deles.
Às vezes dá uma canseira de Brasil.
Pensei em não escrever meu texto de domingo. Uma ideia aqui, algumas palavras em algum lugar, e o meu corpo falando por mim. Hoje é quinta–feira.
Ontem, eu perdi uma amiga da época da graduação em Letras.
O que me machuca é ler o número de vítimas em Ituiutaba e interpretar.
Ali estão família e amigos da minha história.
Mas (detesto conjunções adversativas)
E preciso delas. Cada dia mais.
Lembrei-me do aniversário de uma amiga cronista. Uma live para celebrar os 49 anos.
Foi uma delícia. Senti o vinho na minha tela. A alegria dos convidados. Música, poemas. Ganhei meu dia na noite cheia de ternura.
“Mesmo com o todavia
Com todo o dia
Com todo ia
Todo não ia
A gente vai levando
Vai levando
Vai levando
Vai levando essa guia”
(Chico Buarque e Caetano Veloso. 1975).
Comentários
linda frase. tristes constatações. belo texto, Sandra!