FAZER? OU DESFAZER... >> Carla Dias
Sabe não sobre o que falar.
Dizer palavra para quê? É tanto tanto faz que muito daquilo no qual acreditava que sabia – de verdadeiramente saber – caiu de amores pelo desdito, amparando-se em banalidades açucaradas, arrancadas de desejos rejeitados, arranjos desnecessários, buscas de perder tempo.
Anda com desapego ao que nem era apego, mas importância condenada à condição de descartável, aquilo sobre o que o tudo há muito sabia, até segurar a mão do desentendimento e se assumir desentendido.
Sabe nem sobre o sentir, que emoção anda essa coisa equivocada, não importam as verdades que a amparem. Que benquerença – na genuinidade do seu despudor – deu de ficar ensimesmada, temerosa que anda de ser enviada aos arrabaldes da vadiagem e lá se perder, minguada, sedenta, em um para sempre de frenesis e ranhuras.
Fazer o que se benquerença é essa coisa-fragilidade, que se recolhe nas esquinas da sofreguidão, quando tiram dela a certeza de não ser apenas uma desculpa para prazeres breves e esquecíveis.
Sabe sobreviver, com mais eficiência do que gostaria. Sobrevive, diariamente, a si. De quando as palavras valem tão pouco, que melhor nem tentar enredá-las em pronunciação. De jeito que o compartilhamento se torna acessório para versar maleficências eleitas como necessidades que nunca serão. De quando o olhar se desvia, como que pedindo demissão da beleza de observar profundamente, assim se esbaldando em um raso entendimento sobre o que enxerga.
De quando o corpo dói por falta de abraço, de caminhada, de ir o mais longe possível, quando ficar no mesmo lugar é emudecer.
Fazer? Ou desfazer...
Imagem © Autorretrato do ilustrador Hannes Bok, (domínio público)
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