O PASTOR >> Sergio Geia
Eu o encontrava em caminhadas, nos esbarrávamos, ele me dava bom-dia e seguia.
Alto, cabeça erguida como um general, cavanhaque austero, seguia com o corpo reto, sem qualquer menção de querer dobrar o tronco à frente, num desalinho esquisito. A voz sempre empostada, os passos sempre largos, ajustados, parecia daqueles homens acostumados a atividade física, a longos quilômetros de corrida, a inalcançáveis horas de abdominais e polichinelos.
Um militar, sem dúvida. Talvez aposentado, mas militar. Sempre tive comigo essa vaga impressão, mas outro dia veio a surpresa.
No facebook, um culto transmitido ao vivo. No alto de seu púlpito, vestindo uma camisa polo listrada de azul e branco, a voz sempre empostada, meu companheiro de caminhadas falava a seus seguidores sobre Jesus e Pedro, e a controvérsia teleológica sobre o verdadeiro fundador da igreja. É um pastor, pensei.
Não tive ainda a oportunidade de comentar com uma tia que frequenta a mesma igreja sobre o fato, mas outro dia, de dentro de seu carro, ele gritou qualquer coisa parecida com meu nome. Assustado, eu parei. Humilde como Francisco, ele me agradeceu pela presença daquele dia.
—Imagina! — eu respondi.
— Não precisa agradecer... — e com um leve aceno, segui o meu caminho.
Comentários
Amigos Zoraya e Albir, grato, queridos! Esses encontros e, especialmente, a crônica, rendem desdobramentos. O pastor leu a crônica, depois conseguiu meu zap com a tia e entrou em contato comigo. Quem sabe a crônica não faça nascer uma nova amizade. Grande abraço, amigos!
Valeu, Paulo! É isso aí.