CRUZAMENTOS >> Sandra Modesto
O portão estava bem aberto. Olhou cenas reais. Muitas pessoas em movimento. Uma mulher, várias crianças, um cachorro, cadeiras, plantas, conversas, risos. E a personagem principal: uma senhora idosa, sentada em uma cadeira. Usava um vestido florido, os cabelos e a pele denotando a passagem transformadora do tempo.
Gesticulava movimentos trêmulos, boca entreaberta, mas ao derredor, pessoas mais jovens consideravam a mais velha da casa, como parte de um todo. Escolheram não abandonar, não depositar no asilo, preferiram assim. A personagem à cadeira não entendia nada. Não sabia mais quem era quem, não sabia mais nem quem era ela. E daí?
A mulher que caminhava sozinha e usava jeans era eu.
Enquanto andava fiquei me perguntando:
Será que tenho medo da morte ou tenho medo de morrer?
Vou morrer amanhã, domingo?
Vou morrer...
Veio-me a memória musical: Gilberto Gil.
NÃO TENHO MEDO DA MORTE
“Não tenho medo da morte
Mas medo de morrer, sim.
A morte é depois de mim
Mas quem vai morrer sou eu
O derradeiro ato meu
E eu terei de estar presente
Assim como um presidente
Dando posse ao sucessor
Terei que morrer vivendo”
(Texto do meu segundo livro: “Tudo em mim é prosa e rima”- Publicado em março de 2019. Autografia editora).
Comentários