A CURA >> Clara Braga
Sou totalmente encantada com a forma como a arte pode nos atravessar e mexer com a gente! E, nesse quesito, ela é bem democrática, pois podemos ser atravessados tanto por um Picasso, quanto por uma obra que vemos na rua e nem sabemos quem fez!
Mais incrível que isso, é o fato de que uma arte nos toca não só pelo que ela é, mas pelo que nós somos quando entramos em contato com ela! Logo, uma mesma obra é capaz de nos encantar, ou até deixar de nos encantar, de formas diferentes ao longo do tempo!
Quando eu era bem novinha, acho que tinha uns 4 ou 5 anos, vi uma colega de escola dançar ballet e aquilo mexeu comigo. Decidi dançar ballet clássico e lá fiquei por 7 anos! Até hoje gosto de assistir ballet, realmente é uma dança que mexe muito comigo, mas as exigências e a rigidez de ensaios diários foram demais para mim, principalmente na idade dos 11 ou 12 anos!
Foi aí que meu encantamento diminuiu e eu larguei o ballet e fui direto atrás daquilo que me encantava naquele momento: tocar bateria!
Depois de aproximadamente 2 anos tocando, participei da primeira audição da escola onde estudava! Lembro do dia com riqueza de detalhes, como se fosse hoje, e eu era puro nervosismo e realização!
A escola havia disponibilizado uma lista de músicas que podíamos escolher para tocar acompanhados de uma banda profissional, imaginem que luxo!
Ouvi várias músicas da lista junto com meu professor, mas quando ele me mostrou A Cura de Lulu Santos, não teve outra opção, a bateria dessa música, bem como a música toda, é maravilhosa!
Ensaiei incansavelmente, e na hora da apresentação estava tão nervosa que, para mim, parecia até que eu ia tocar no Rock in Rio. Depois dessa primeira apresentação como baterista, toquei várias outras vezes nas mais diversas ocasiões e, embora nunca mais tenha tocado essa música em um palco, nunca me esqueci como tocava. Vez ou outra voltei a tocar durante meus estudos, só para mim mesmo, pois ela se tornou uma música importante, uma música que sempre que escuto me transporta para um momento extremamente especial!
Essa semana, depois de quase um ano de distanciamento social, depois de assistir à mais de 200 mil mortes só no Brasil, depois de ver escancarada a diferença social desse “país de maricas” que teve como primeira vítima fatal uma mulher negra que foi infectada pelos patrões que haviam viajado para o exterior, tivemos finalmente um momento de alívio: começamos a vacinação!
O momento da primeira brasileira tomando a vacina foi emocionante por si só! Principalmente por ter sido aquela mulher: enfermeira, negra, com comorbidades, que trabalha há 10 meses na linha de frente dessa verdadeira guerra.
Mas enquanto lia as reportagens sobre a vacinação, acabei encontrando um vídeo curto do Lulu Santos, emocionado, com olhos marejados, cantando um trecho da música A Cura! Fui novamente atravessada por essa música que já significou tanto para mim e que, agora, me toca de forma totalmente diferente, mas não menos importante!
Vi o vídeo repetidas vezes, um vídeo simples, mas que realmente me tocou! Por isso, hoje decidi escrever essa crônica e compartilhar aqui o mesmo trecho que Lulu Santos cantou em seu vídeo com os mesmos olhos emocionados:
“Existirá
E toda raça então experimentará
Para todo mal, a cura”
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Acompanho a Nádia, que a cura nos alcance de todas as maneiras!