CLIENTE, ENCOLHI A VIDA! >> Paulo Meireles Barguil
O copista dedicava meses para produzir um livro, a bordadeira semanas para tecer uma roupa e o marceneiro dias para fazer uma porta.
A Humanidade, contudo, já não aguentava esperar para usufruir desses bens e de muitos outros.
A complexificação dos modos de produção impacta profundamente na sociedade e em cada um de nós, não somente no local de trabalho, mas nos ambientes de lazer e no lar.
Necessário, também, registrar que o incremento da população incentivou a ocupação de outros espaços, ampliando a distância entre os povoamentos e, em consequência, o tempo para percorrê-lo.
As melhorias nos meios de transporte e de comunicação são espetaculares, inimagináveis!, com impactos grandiosos no nosso modo de vida.
Toda mudança tem ônus e bônus, os quais são faces da mesma moeda: siameses inseparáveis!
O preço de uma mercadoria não é o que pagamos, nem o estimado pelo fabricante a partir dos insumos naquela utilizados.
Na verdade, é impossível determiná-lo, considerando a multiplicidade de aspectos envolvidos na sua confecção que não são quantificáveis.
Da mesma forma, o custo daquela não é o que foi pago pelo comprador, pois ignoramos o que ele precisou fazer para conseguir a quantia dispendida.
Os avanços tecnológicos na sociedade são amplos e irreversíveis, mas precisamos considerar a diversidade e a amplitude de suas consequências.
Para seduzir o consumidor, o vendedor anuncia quando o preço de uma mercadoria está menor do que o usual, para que aquele acredite que fará um bom negócio se adquiri-lo, mesmo se não estiver precisando...
Com a mesma intenção, o fabricante informa quando o preço de um produto é o mesmo numa embalagem, somente um pouco, maior.
Seria ingenuidade esperar que esse explicitasse a diminuição, tal como aconteceu com o comprimento do rolo do papel higiênico, o peso da barra de chocolate e do leite em pó em saco, dentre tantos outros.
Apesar de verdadeiro, sei que jamais escutarei ou lerei esse slogan:
– Cliente, encolhi a vida!
[Crônica dedicada à minha irmã, Beatriz Meireles Barguil, que me sugeriu escrever sobre a diminuição das embalagens dos produtos]
Comentários
Muito oportuna a sua análise.