A SINCERIDADE DE UMA CRIANÇA >> Clara Braga
Houve um tempo, quando eu ainda trabalhava em escola, que eu dava aulas para crianças de 6 anos até adolescentes de 17/18 anos, ou seja, um público um tanto diverso, mas que pode ser igualmente desafiador.
Às vezes, para explicar a matéria, eu fazia pequenos desenhos no quadro. E nesse momento, a coisa ficava interessante. Quando eu precisava fazer algum desenho para as turmas das crianças, eles achavam o máximo! Um dia, para explicar a atividade do livro que mostrava um quadro de Romero Britto, imitei um desenho dele de forma bem simples, só mesmo para ilustrar, sem nenhuma pretenção de ser realista. Mesmo assim, quando terminei, as crianças ficaram impressionadas: nossa, professora, como você desenha bem! Caramba, quero aprender a desenhar assim também!
Já quando eu chegava nas turmas de adolescentes, não importa o quanto eu me esforçasse, depois de qualquer desenho meu, eu tinha que ouvir um: eita, professora, você não é formada em arte? Achei que quem formava em artes sabia desenhar.
Esses comentários nunca me abalaram, sempre levei na brincadeira, até porque desenho nunca foi minha área, sempre me dediquei à fotografia e à arte educação, ou seja, existem mais artistas que não sabem desenhar por aí do que você pode imaginar, e isso não é um problema.
Mas um dia desses, reparei que eu sou quase um ser de luz para meu filho. Tudo que eu faço ele acha o máximo! Pede para eu desenhar e adora o desenho! Outro dia, peguei algo para ele e ele disse: uau, como você é forte! Não lembro o que eu peguei, mas com certeza era mais leve que ele. E também tem os dias que eu faço uma comidinha bem mequetrefe e ele fala: você que fez meu papá, mamãe? Está muito gostoso!
Cada elogio desse é uma inflada no ego! Ser elogiada pelo filho, mesmo que o nível de comparação dele seja baixíssimo, é sempre bom! Mas esses dias, quando estava me arrumando para sair, ele olhou para mim e deu uma risada. Quando perguntei o que foi, ele disse: onde você vai com essa roupa, está muito feia, não gostei!
Nesse momento, lembrei dos meus alunos adolescentes e percebi que eu não serei um ser de luz para o meu filho eternamente! Um dia ele vai ver tantos desenhos, segurar tanta coisa pesada e comer tantas comidas diferentes, que vai descobrir que eu não sou muito boa em nenhum desses tópicos.
Confesso que fiquei um pouco abalada, é boa essa sensação de ser quase um ser mitológico para os filhos. Mas, verdade seja dita, também é muita pressão para um pessoa só. Tudo bem, meu filho pode descobrir que eu não sou essa pessoa maravilhosa em tudo que faz, mas poxa vida, podia esperar um pouco mais né, ele só tem três anos!
Comentários
Não tenho filhos, então não vou dizer que sei a respeito desse sentimento. Tenho dez sobrinhos, de quem sou muito próxima. Eles me disseram muitas barbaridades, mas eu adorava. Não há nada como alguém lhe dizendo o que realmente acha. Adorei a crônica!