EXCELÊNCIA E ÁGUA FRESCA >> André Ferrer
Nosso país é relativamente novo. A História de outras nações, no
entanto, pouco tem servido de lição por aqui.
O que poderia ser encarado como um privilégio — todos aqueles anos de
tentativas e erros cometidos mundo afora à disposição! — é, quando muito,
subaproveitado no Brasil.
"Zé Carioca e o goleiro Gastão", Disney, 1961 |
Estuda-se pouco. Na maioria das vezes, o suficiente para o canudo. Trabalha-se
muito. Sim, no Brasil, trabalha-se muito, porém com qualidade e frequência
risíveis.
Em torno de alguns negócios bem sucedidos por aqui, alardeia-se a
implantação da excelência estrangeira, principalmente a norte-americana. Oh, my
gosh! Olhe mais de perto. Take a closer look! Assim, como o próprio Monument
Valley numa fita de John Ford, descortina-se a realidade: I'm sorry, but you
cheated. O homem do marketing te pegou! O único contato com a legítima excelência ianque, no mínimo, te custará a
obtenção do green card e duas décadas, pelo menos, da mais honesta imersão num
vilarejo cravado nos rincões de Utah.
Por falar nisso, Utah é o 45° Estado americano e foi levantado no meio
do deserto. Seus fundadores foram os mórmons (quase 70% da população atual).
Donos de um estoicismo admirável, os pioneiros enfrentaram uma terra bem mais
árida do que, por exemplo, a caatinga brasileira. Utah, entretanto, só repete (e
de maneira admirável) o processo de ocupação territorial que o cristão
protestante realizou, a partir da independência, na maioria dos 50 Estados
daquele país.
Nas escolas brasileiras, ensina-se essa História americana sob o viés
do “coitadismo”. Enquanto se apresenta Borba Gato e Domingos Jorge Velho como
heróis nacionais, o pioneiro norte-americano aparece como um matador de bisões
(antiecológico quando o termo ecologia sequer existia) e de... índios (Domingos
Jorge Velho, para quem não sabe, colecionava orelhas de nativos)! Sim, porque o
foco não é contextualizar o bandeirante ou o colono ianque e ensinar o aluno a
pensar, mas propagar a autocomiseração justificada pelo antiamericanismo. De
fato, a pedagogia do oprimido a serviço da opressão. Muda-se apenas o
opressor e a tal da revolução libertadora fica só no discurso.
Por que raios, no lugar desse palavrório maniqueísta, não se
aprofundam os estudos em busca da verdade? Ora, porque a verdade sobre um povo
guerreiro, que valoriza a excelência, o mérito e o suor do seu rosto (e olha
torto para a indolência) não serve àqueles que, em vez de educar, desejam minar
a inteligência com o intuito de multiplicar a submissão.
Abraçamos o cheeseburger, o For Sale, os rodeios, o Halloween e, de
uns anos para cá, o Black Friday. Todas essas coisas, enfim, que já estão
assimiladas e entranhadas no dia a dia do brasileiro ou, pelo menos, em vias
de. OKAY? Mas não paramos no fast-food e nas confraternizações da nossa turma
do inglês.
Um artigo que se importou muito por aqui, dos anos de 1950 para cá,
foi o protestantismo à moda norte-americana, o neopentecostalismo.
Na década de
1980, dizia-se que o Brasil se tornaria uma grande potência caso a maioria
católica perdesse espaço para eles. Mentira. Seria verdade se, além de televangelistas
como Jimmy Swaggart (e o know-how que, hoje em dia, é usado e abusado por um sem
número de igrejinhas caça-níqueis), viesse para cá, por exemplo (sim, há
muitos exemplos que caberiam perfeitamente aqui, como os já referidos mórmons, os
batistas, etc.), a doutrina que John Wesley enviou aos EUA recém-independentes
pelas mãos de alguns missionários. Em resumo, o protestantismo como um fenômeno
que transformou os EUA numa grande potência, e que, infelizmente, não se
reproduziu e jamais se reproduzirá aqui.
Domingos Jorge Velho num bilhete da Loteria Federal durante a década de 1970 |
Por que é tão difícil, para muitos, observar o mundo e retirar dele
boas lições independente se as lições venham do amigo ou inimigo? É viável ser
capitalista e contemplar as questões sociais. É bem possível ser um
antiamericano e aprofundar o tema sem patifarias doutrinadoras. Inúmeros
elementos da cultura ianque fazem parte das nossas vidas. É lindo. Lindo mesmo.
Seria muito, entretanto, acrescentar alguns itens a esse festivo abraço à
sequoia gigante? Por exemplo: um pouco de pragmatismo. Que tal? Hein? E que
tal, ainda, esquecer a divina providência política, o clientelismo, o “coitadismo”,
arregaçar as mangas e fazer por onde?!
Nada melhor, no final do dia, do que olhar em cima da mesa e sentir
orgulho do dinner, aquele T-bone steak besuntado de barbecue sauce... aquelas
batatas fritas. Não é mesmo?!
Comentários
Vc devia abrir um 'soul wash", André.