AS SENHORINHAS >> Sergio Geia
Dei de cara com quatro senhorinhas andando pela calçada da Professor Moreira. Normal. Ainda mais considerando que era domingo de manhã, dia ensolarado, a igreja a poucos metros dali. Mas a cena me chamou a atenção porque as quatro senhorinhas andavam penduradas umas nas outras. Parecia que cada uma precisava da força e do equilíbrio das demais pra seguir adiante. Ali não eram quatro senhorinhas, mas uma só; uma identidade, coesa, sólida, que se mantinha estável pela força de oito braços frágeis, moles e cansados.
O registro daquelas senhorinhas elegantes, cheirosas e de cabelos de algodão ficou na memória, e tão logo cheguei em casa tratei de dar corpo a alguma coisa que tivesse as velhinhas da Professor Moreira como mote. Fiquei a imaginar, por exemplo, a rotina daquela gente numa manhã alvissareira de domingo. Confesso que tenho até medo. Pois é nessas horas que essa cabeça doida viaja e dúzias de talvez, quem sabe e coisa e tal me enlouquecem. Mas juro, juro que a intenção não é essa. O que me traz aqui é a ideia de crônica leve, bucólica, como essa manhã de domingo que caminha brejeira ao som de pardais e da cachorrada ao longe.
Domingo é dia de reunir a família em torno da mesa. É dia de frango, macarrão e maionese. É dia de conversa fiada, de beber, de dormir um pouco à tarde. É dia de futebol. No mínimo aquelas senhorinhas iriam fazer tudo isso. Menos o futebol, claro. Talvez fossem avós de uma família grande. Talvez a casa estivesse barulhenta pela bagunça da criançada.
Na minha, sempre foi assim. Um domingo almoçávamos na Professor Moreira, na casa da minha vó Lourença. Não faltavam o macarrão, o frango e a maionese. E coca-cola, claro. Íamos pegar no Coleta. Era garrafa de vidro. Um litro. Dava pra todo mundo. Era a multiplicação da coca-cola. No outro, o almoço era na Barão, na casa da vó Ita. O cardápio era o mesmo. E de sobremesa, doce de abacaxi.
Acho que cada senhorinha iria chegar em casa e começar a dar cabo dos preparativos do almoço para reunir a macacada. Se bem que hoje em dia essa tradição de almoço de domingo em casa anda perdendo força. As avós, mais modernas, não querem saber de cozinhar. Preferem um bom restaurante, de preferência na serra, de preferência em Campos de Jordão, por que não?
Mas não, não acredito que seja o caso. As senhorinhas me pareceram muito das tradicionais. O almoço certamente seria em casa sim, com macarrão, frango e maionese. E se bobear, a sobremesa seria doce de abacaxi. A criançada estaria brincando e tomando coca-cola; os filhos, genros e noras bebendo cerveja, discutindo alguma coisa. Cada uma delas estaria dirigindo o fogão, cortando os legumes, administrando o cozido.
Ou, talvez, míope e desatento, eu não enxergue o óbvio. Talvez, um dia, ainda jovens e atraentes, essas senhorinhas deram uma banana para os condicionamentos sociais. Talvez nem se casaram. Talvez vivam sozinhas, não têm filhos, netos nem família grande. Ou quem sabe são casais. Por que não? Dois casais que moram juntos e vivem muito bem. De repente, aos domingos, eles se juntam para almoçar num bom restaurante, de preferência pra comer não macarrão, frango e maionese ao som da tevê, mas pra comer truta com pinhão ao som de um violão. Talvez, na serra. Quem sabe em Campos do Jordão?
O registro daquelas senhorinhas elegantes, cheirosas e de cabelos de algodão ficou na memória, e tão logo cheguei em casa tratei de dar corpo a alguma coisa que tivesse as velhinhas da Professor Moreira como mote. Fiquei a imaginar, por exemplo, a rotina daquela gente numa manhã alvissareira de domingo. Confesso que tenho até medo. Pois é nessas horas que essa cabeça doida viaja e dúzias de talvez, quem sabe e coisa e tal me enlouquecem. Mas juro, juro que a intenção não é essa. O que me traz aqui é a ideia de crônica leve, bucólica, como essa manhã de domingo que caminha brejeira ao som de pardais e da cachorrada ao longe.
Domingo é dia de reunir a família em torno da mesa. É dia de frango, macarrão e maionese. É dia de conversa fiada, de beber, de dormir um pouco à tarde. É dia de futebol. No mínimo aquelas senhorinhas iriam fazer tudo isso. Menos o futebol, claro. Talvez fossem avós de uma família grande. Talvez a casa estivesse barulhenta pela bagunça da criançada.
Na minha, sempre foi assim. Um domingo almoçávamos na Professor Moreira, na casa da minha vó Lourença. Não faltavam o macarrão, o frango e a maionese. E coca-cola, claro. Íamos pegar no Coleta. Era garrafa de vidro. Um litro. Dava pra todo mundo. Era a multiplicação da coca-cola. No outro, o almoço era na Barão, na casa da vó Ita. O cardápio era o mesmo. E de sobremesa, doce de abacaxi.
Acho que cada senhorinha iria chegar em casa e começar a dar cabo dos preparativos do almoço para reunir a macacada. Se bem que hoje em dia essa tradição de almoço de domingo em casa anda perdendo força. As avós, mais modernas, não querem saber de cozinhar. Preferem um bom restaurante, de preferência na serra, de preferência em Campos de Jordão, por que não?
Mas não, não acredito que seja o caso. As senhorinhas me pareceram muito das tradicionais. O almoço certamente seria em casa sim, com macarrão, frango e maionese. E se bobear, a sobremesa seria doce de abacaxi. A criançada estaria brincando e tomando coca-cola; os filhos, genros e noras bebendo cerveja, discutindo alguma coisa. Cada uma delas estaria dirigindo o fogão, cortando os legumes, administrando o cozido.
Ou, talvez, míope e desatento, eu não enxergue o óbvio. Talvez, um dia, ainda jovens e atraentes, essas senhorinhas deram uma banana para os condicionamentos sociais. Talvez nem se casaram. Talvez vivam sozinhas, não têm filhos, netos nem família grande. Ou quem sabe são casais. Por que não? Dois casais que moram juntos e vivem muito bem. De repente, aos domingos, eles se juntam para almoçar num bom restaurante, de preferência pra comer não macarrão, frango e maionese ao som da tevê, mas pra comer truta com pinhão ao som de um violão. Talvez, na serra. Quem sabe em Campos do Jordão?
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