MUDANÇAS QUE IMPORTAM >> Carla Dias
O mundo nunca o convida para as mudanças que importam. Aprendeu a observá-las, sem permitir que a mágoa ou o descontentamento se tornassem companheiros fiéis. Não as evita, como se fosse o invejoso da vez, por acreditar na benevolência ou em qualquer ação de defesa do positivismo. É por mera autopreservação, o que não o impede de mergulhar nelas para uma viagem ou outra de reconhecimento da sua importância.
Acredita que positivismo em excesso pode transformar qualquer um em vítima da negação.
Nos momentos em que a sente mais próxima, em que a quentura do corpo vem como resposta a uma reação ao inesperado da mudança, percebe-se respirar em uma cadência que não saberia replicar na rotina do seu currículo existencial.
Coleciona segredos alheios. Sente-se o guardião desses sigilos, mesmo os tendo confiscado a contragosto, os colhido durante a espera em filas de banco, supermercado, cinema; nos consultórios médicos e cosméticos e até no lugar nenhum dos balcões de bares. Coleciona segredos e vezes em que o mundo não o convidou para mudanças que importam.
Às vezes, elas se esparramam no seu cotidiano, como se estivessem aflitas com a possibilidade de não cumprirem decentemente o seu papel. Ele sabe, porque as observa, conhece as suas camadas. Espera pacientemente o momento em que elas se desnudarão diante dos seus olhos e percepções, entregando-se a ele.
O mundo nunca o convida para as mudanças que importam. E ele as admira de perto, à espera de que algo extraordinário lhe aconteça.
Imagem © Gerd Altmann por Pixabaycarladias.com
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