26 DE MAIO, 7:16 AM >> Fred Fogaça

 


Sequer sete, o ponto esperando cartão e o corpo estendido na estação feia - mãos dadas ao fardo do dia, os cachorros não prestigiaram o portão quando ela saiu: não que já não soubessem, não que não se importassem, só sabiam - e se esquivavam. A cidade é um recorte da espera, Manoel fazia silêncio, a estação agora é um momento isolado da sua desgraça - eu mesmo evito os trens que param lá. Sua presença à rés do chão, no além, deitada no inoticiável e pior, não morria e ainda acenava lá de baixo, acenava depois do grito terrível, presa na intransigência de um quase lá, no abandono de um tarde demais. Mas o trem, sim, o trem, ele não hesitava: era vinte e seis de maio, sete e dezesseis da manhã e dela, nos minutos seguintes que seguiram, nada mais restava.

Comentários

Zoraya Cesar disse…
"presa na intransigência de um quase lá, no abandono de um tarde demais que frase espetacular! enorme em significado, enorme em estilo. Um conto conciso e fatal. Bom demais.

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