LITERATURA NÃO É SACERDÓCIO >> whisner fraga
o brasil é um país consumidor de livros e o nosso povo lê, mas lê mal, lê o fácil, prefere comida mastigada, ultraprocessada, pronta para engolir: postagens de facebook, manchetes de jornais, legendas de fotos do instagram, páginas de fofocas, livros de autoajuda, best sellers em geral, de preferência de autores norte-americanos,
o resto quer de graça: acham que devem ganhar um livro do escritor amigo, imaginam que arte é passatempo, é desabafo, a exemplo dos versos da adolescência,
estão inebriados pelo clichê de que grandes artistas morreram pobres - desnecessário comentar as aberrações contidas neste raciocínio,
nem vou cair na tentação de comparar o preço de um romance ao da cerveja ou, mais recentemente, ao do litro da gasolina e, se o capitalismo prezasse pela justiça, uma obra literária valeria bem mais: duzentas páginas não podem ser concebidas da noite para o dia, são necessárias centenas, às vezes milhares de horas de pesquisa, de reescrita, de esforço, de leitura, de suor,
claro, é possível produzir um best seller em cinco, seis dias, mas não é disso que trato, mas do livro como objeto artístico: aí vamos mal,
basta uma passada de olhos na retratos da leitura no brasil para concluir que nosso povo é incapaz de decifrar parágrafos mais profundos, desafiadores, e é com este arrazoado que põe preço nas coisas: um ditado, um lugar-comum é mais considerado do que uma metáfora:
vejo colegas comemorando a venda de três mil exemplares, quando deveriam ter tiragens de dez, vinte mil, esgotadas em um mês,
não leio autoajuda, meu tempo é muito precioso para ser desperdiçado e faço questão de adquirir a arte de meus pares: quando uma publicação me é oferecida gratuitamente pelo autor, me sinto constrangido, prefiro comprá-la,
por trás de tudo isso está a valorização de nosso trabalho e disso não abro mão.
Comentários
É a valorização do trabalho e do tempo do artista. Acertado texto, Whisner! Acho q nos envergonhamos um pouco de vender nossos escritos, como se fossem artigo 'menor', menor que a carne, o arroz e o feijão, esquecendo que trabalho é trabalho.